A VACA FOI PRO BREJO

Meu avô materno foi o maior contador de histórias que eu tive oportunidade de conhecer, e conseqüentemente, um grande mentiroso.

Quando eu devia ter uns nove anos, contou a história de uma vaca que tinha ido pro brejo. Não lembro dos detalhes e confesso que nem sabia o que significava ‘brejo’, e naquela inocência de criança, chorei muito com pena da vaquinha.

Mais tarde, já freqüentando uma pequena sala de aula (que de tão pequena, quando o sol entrava alguém tinha que sair), vim a descobrir que ‘brejo’ significa terreno pantanoso, e que o ditado “A vaca foi pro brejo” era o seguinte: - em tempos de seca, o gado partia em busca de água em lugares pantanosos e acabava se atolando, e devido à dificuldade de tirá-los daquele lamaçal, acabava morrendo.

Quando vovô não acreditava numa história, dizia: “Pode tirar o cavalinho da chuva, isso é conversa pra boi dormir”.

Já adulto, mas com saudades das mentiras de vovô e de suas frases filosóficas, perguntei o que ele queria dizer com “tirar o cavalo da chuva” e “conversa pra boi dormir”.

E lá veio mentira novamente.

Contou que certa vez em Portugal, seu avô foi em uma vila vender um saco de farinha que havia levado em cima do cavalo. Naquela tarde, em uma pequena padaria, uma forte tempestade animou a conversa acompanhada de um bom vinho, que o fez esquecer o cavalo na chuva. Quando foi avisado que a farinha tinha molhado, simplesmente disse: Pronto, agora só falta amassar e pôr o pão no forno.

É claro que o negócio não se concretizou, mas o avô do meu avô aprendeu uma lição: Quando ameaçar chover, tire o cavalo da chuva.

Sobre a “conversa pra boi dormir” vovô contou outra história. Aliás, outra mentira.

Disse que numa determinada fazenda em Goiás, de propriedade de um irmão de seu cunhado, havia um boi sem pedigree (foi mal castrado), e na calada da noite, pulava a cerca e fazia mil confusões nas fazendas vizinhas, desrespeitando os outros touros. A queixa era tanta que a história chegou aos ouvidos do Bispo que aconselhou o proprietário, (para evitar uma mortandade), a colocar um peão no curral e passar a noite contando histórias de

boi tatá, de mula sem cabeça, para assustar o pulador de cerca, fazendo-o dormir.

Tudo em vão. O boi fingia dormir para enganar o contador de história e na calada da madrugada, no cochilo do peão, lá ia ele para suas aventuras nada exemplares.

Novamente a queixa chegou ao Bispo que, diante das juras do proprietário de que havia cumprido o seu conselho direitinho, preferiu não dar crédito aos queixosos a respondeu com cara de Maguila: “ESSA LAMÚRIA DOS SENHORES É CONVERSA PRA BOI DORMIR”.

Anos mais tarde, não se sabe por que, o famoso boi resolveu pendurar a chuteira, ou coisa parecida.

Tenho acompanhado o caso do presidente do Senado, nosso José Sarney, e estou com pressentimento que sua situação está se tornando insustentável e que alguém lhe aconselhará: “Sarney, pode tirar seu cavalinho da chuva, pois os argumentos de que você não deve nada, não sabe de nada, são conversas pra boi dormir e que a vaca já foi pro brejo”.