O bonde
" Na vida tudo é passageiro...
menos o motorista e o cobrador. "
"Um lugar! um lugar!", diz alegre e ligeiro o senhor idoso, estatura média, cabelos brancos e bem humorado, ao entrar no meio do corredor do vagão do metrô, esticando os olhos espertos sobre o banco cinza destinado aos idosos.
Senta-se o senhor transeunte, com seu sorriso e sua fala curta chamando a atenção, partindo do monólogo para o diálogo com quem o possa ouvir e responder, com sua conversa saudosista dos tempos em que ele andava de bonde e segundo ele, "só não pegava o bonde andando de costas", mas de frente eram todas as vezes, correndo e saltando para dentro com o bonde em movimento.
"No meu tempo era bonde. Tinha lugar para sentar, sem precisar correr atrás de um banco vazio e havia respeito, cordialidade. Muito diferente de hoje, que é raridade ver banco vazio, até o de idoso ocupado realmente por idoso".
Uma pausa e um fôlego, volta a conversar.
"Sabe, você conhece o Jô Soares, né? Então ... outro dia eu o vi no programa recitando no meio de uma entrevista, uns versos engraçados que a gente lia nos bondes..."
- Estação Belém - avisa o condutor.
- Até logo, senhorita. Tenha uma boa tarde.
Lá vai o passageiro ligeiro, saltando de dentro para fora, para quem sabe viajar em outros tempos, tempos de bonde, de respeito, simpatia, cortesia, pureza, alegria ...
Até mais, senhor passageiro, até a próxima estação, inverno ou verão, trem ou busão, com muito humor e ação.
Esse deveria ser um exemplo de comportamento e bom humor para certos usuários de metrô, profissionais em empurrões, palavrões, chutes e atropelos para pegar primeiro o melhor lugar para sentar.