A PACIENTE ( PEQUENA FÁBULA )
A PACIENTE
Uma simpática idosa-negra-favelada-paupérrima ( lembrando que nos dias de hoje há habitantes dos morros cariocas endinheirados e essas definições são imprescindíveis para expor o grau de preconceito das classes dominantes, quanto às pessoas que se encaixam nesse perfil ); precisava receber raios infravermelhos de uma única máquina que um hospital modelo, reconhecido nacionalmente por sua eficiência, possuía, mas que infelizmente estava quebrada. Por este motivo uma junta médica formou-se apreensiva em torno da senhora, afirmando que necessitavam, com urgência da tal máquina, que seria imprescindível para a cura da tão querida paciente, mas o aparelho custava não sei quantos mil dólares e o governo não liberava a verba para o conserto e para a vinda de um especialista do exterior... Um dava uma sugestão ali, outro aqui, o ambiente gradativamente ia se alvoroçando, cada vez mais tumultuado, todos falavam alto e ao mesmo tempo, uns esfregavam as mãos, os rostos, arrancavam os cabelos, os mais exaltados já falavam palavrões, quando a doente humildemente manifestou-se, levantando o dedo mindinho da mão direita, talvez iluminada por suas constantes orações diárias, lembrando-se do conteúdo de um antigo livro de ciências amarelado, sem capa, amassado, jogado no chão da rua, recolhido por ela e lido com a dificuldade das poucas letras: - Doutores, por que vocês não me botam no sol?
MORAIS DA HISTÓRIA: Às vezes não vemos as soluções ao alcance de nossas mãos.
As soluções podem vir de quem menos esperamos e não damos crédito.
Às vezes o problema é a solução.