Bate bate bate na porta do céu - Parte I
Estava tudo escuro. A cegueira a que estava entregue mostrava-se um verdadeiro suplício. Talvez devesse simplesmente abrir os olhos...o fez. Após um sabe-se lá quanto tempo mergulhado na escuridão, era normal que sua vista estivesse turva e que lhe fosse difícil focalizar o ambiente. Mas aquilo definitivamente não era o que esperava ver.
À princípio parecia ser exclusivamente uma sala branca, sem nenhum atrativo extra, a não ser um quadro torto na parede que lhe lembrava vagamente uma cena de atropelamento, e, ao perceber que era ele quem estava pintado atropelado neste quadro, não imaginava que estivesse em um local seguro... uma mesinha com um copo pela metade de água e um cinzeiro com uma guimba de cigarro ainda fumegante complementavam a horripilante decoração daquele ambiente.
Será que estava ficando louco ou eram realmente passos que ele ouvia? Mas vindos de onde? Não tardou a descobrir. De dentro da própria pardede, como se fosse um fantasma, saiu um homem, não um anjo ou um demônio, mas um homem comum que, aliás, lhe lembrava muito um conhecido...
- Menezes!
- Boa tarde Matias, desculpe mas vim lhe informar que sua hora de partir chegou.
- Mas como assim Menezes, você é meu parceiro de biriba, meu amigo, meu advogado! O que tá acontecendo meu Deus???
- Primeiramente Matias, não fale ainda em Deus, por favor. Não adianta nada disso agora, isso pode até contar contra você, meu caro. Mais tarde você entenderá tudo. Relaxe.
Só podia ser um pesadelo. Era isso! Estava explicado, logo logo ele abriria os olhos e veria que estava em sua cama, ou babando no ombro de alguém entre os três ônibus que pegava por dia.