"Amor da minha vida!"
No silêncio barulhento do ônibus, seguia a viagem.
Eu em pé, claro! Sempre atrasada, não consigo um só lugar para me sentar. Toca um bendito celular e o sujeito atende:
- Amor! Amor da minha vida, razão da minha vida! - ele berrava ao telefone e posso jurar que se ele se esforçasse mais um pouco economizaria o custo da ligação. - Amor, eu tô aqui no ônibus exatamente em frente ao EPA, na João Samaha esquina com Pedro I, eu tô em pé Amor!
Enquanto isso eu, que nada tinha a ver com a história ou com tamanho amor devotado, ouvia já impaciente à declaração.
- Amor, eu vou resolver todos os meus problemas, Amor da minha vida! Coloca R$10 de crédito no meu celular pra mim, porque eu preciso, eu preciso mesmo! Mais tarde eu te dou. Amor da minha vida, meu tesão, meu tudo!
Nisso eu já estava a ponto de vomitar! Não sei o que me irritava mais, se era o exagero do rapaz ou se era a minha dor de cotovelo.
Bom, continuemos...
- Amor, amor, me escuta! - e eu estava bem atenta, como se fosse o tal amor - Eu vou buscar meu diploma ... sim... meu diploma na FIAT, eu tenho um diploma da FIAT (...) - aí eu não entendi mais nada!
- Tá bom amor! Eu tô em pé, depois a gente conversa, tá bom? Beijo meu tudo!
Ai meu Deus! Pra que tudo aquilo?!
Mais uma vez o telefone do sujeito toca...
- Amor, pega as minhas "aportilas" pra mim. Estão em cima da cama. A de inglês, espanhol, francês e italiano, porque eu estudo isso tudo e eu preciso delas. Tô sentado na escada amor, na escada!
Não agüentei mais segurar o riso, já não suportava e nada eu tinha a ver com aquela situação, repito! Eu estava indignada!!
O mais engraçado é que ao passar na roleta ele havia pedido ao cobrador para ficar devendo cinco centavos, porque não tinha trocado. Logo pensei, diante de todo aquele discurso, por que, afinal, ele não ofereceu um cheque ou perguntou se o cobrador aceitava cartão de crédito(?).
Quanta hipocrisia!
E o que eu tenho a ver com isso mesmo?
Nada! Oh, meu Deus!