CONSULTA

– Mas, doutora, não posso mais continuar essa análise.

– Por quê?

– Começo a pensar coisas que não devo dizer.

– O que não deve dizer?

– Você pergunta demais.

– É o meu trabalho.

– Seu trabalho, perguntar?

– Exatamente.

– Passa anos na faculdade para perguntar?

– Ora, sim.

– Sou formado em engenharia, estudei para dar respostas.

– O que o senhor faz aqui? Por que não dá consultoria a si mesmo?

– Doutora, preciso de uma resposta sua.

– Precisa? não, eu não vou dar pra você.

– Por que não?

– Como seria possível?

– Ora, estamos eu e você aqui, à meia-luz...

– Se isso fosse motivo, meu trabalho não seria perguntar; seria dar, como o do senhor.

– A senhora me respeite!

– Ora, ora, em que momento o desrespeitei?

– Desonrando minha pessoa, minha profissão!

– Atribuindo-lhes as características que o senhor mesmo exaltou?