As formigas e as Cigarras – Uma fábula do século 21

As formigas e as cigarras – Uma fábula do século 21.

Era uma vez, num bosque não muito longe daqui, num tempo não muito distante do de hoje, onde um grupo de formiguinhas trabalhava arduamente, colhendo folhas e alimentos como provisão para o inverno duro que estava por chegar.

Trabalhavam oito, às vezes até 10 horas por dia em sua atividade laboral. As formiguinhas andavam em fila, atravessando toda a floresta cheia de folhas verdes, margaridas amarelas e também tumbérgias azuis. Em determinado momento da marcha até sua toca, passavam por entre um grupo de cigarras de gravatas que cantavam alegremente por todo o dia.

Uma das cigarras, olhando o batalhão de formigas, piscou os olhos para seus pares, que instantaneamente pararam com a cantoria:

- Minhas amigas, para que tanta pressa? Porque não param um pouco para conversar?

- Não podemos, estamos muito ocupadas – responderam as formigas sem parar de marchar – O inverno está chegando e precisamos trabalhar para não passar fome.

- Mas não é assim como pensam – falou a cigarra, olhando as formiguinhas de menor tamanho. - Nós cigarras, não nos preocupamos com o inverno. Não existe tempo ruim para nós. Nosso único trabalho é tocar e cantar por toda a noite, e uma parte de todos os dias.

- Pois muito bem, vamos ao que interessa, depois de muito confabular, nós, cigarras, decidimos que permitiremos com todo o prazer que vocês formiguinhas passem aqui por nosso território, claro mediante o pagamento de uma taxa simbólica de 40% de tudo o que levam.

- Mas que injusto! - Gritaram as formigas - Entendam, o alimento que levamos é para sustentar milhares de outras formigas, 40% de tudo o que levamos como taxa para alimentar esse diminuto grupo de cigarras é demais. Além do que, 40% nos fará muita falta.

- Entendemos exatamente o que querem dizer, mas estamos respaldados aqui na floresta e a contribuição de vocês formiguinhas, servirá para fazer a segurança contra animais insetívoros, limpeza da floresta, previdência das formigas acidentadas e idosas, e da iluminação pública feitas pelos colegas vaga-lumes no período da noite. Isso sim é justiça!

As formiguinhas acharam desonesto, mas estas melhorias realmente viriam bem a calhar nos tempos de hoje.

Um mês se passou e nada prometido foi executado. As folhas que caiam das árvores obstruíam o caminho, animais que se alimentavam de insetos rondavam as redondezas. Como se não bastasse, as formiguinhas idosas e machucadas continuavam a trabalhar, pois não tinham a sua cota de suprimentos batida. Foi ai que um grupinho de formiguinhas foi falar as cigarras. Ao chegar, notaram que aqueles insetos estavam corpulentos e ainda mais saudáveis, cantavam e tocavam mais felizes do que nunca.

- Donas Cigarras, há um mês estamos deixando 40% dos nossos mantimentos aqui, e nenhuma das coisas que prometeram foi cumprida.

A cigarra porta-voz ajeitou a gravata, encheu o peito de ar e falou:

- Estamos providenciando tudo o que foi dito que faríamos, mas vocês precisam entender que as coisas são complicadas... Mas aproveitando que estão aqui, venho comunicar que precisamos aumentar a cota de contribuição de vocês, pois 40% não estão cobrindo as despesas. Este valor passará a 60% do que levam, pois assim, poderemos arcar com as despesas e dar mais qualidade de vida para vocês.

As formigas acharam que 60% eram um percentual muito injusto, mas não falaram nada e voltaram a trabalhar.

O tempo que nunca para, passou, e como era esperado o inverno frio se estabeleceu e literalmente aterrissou sobre essas criaturas como uma bola de neve o faria. As formiguinhas tinham muito pouco o que comer, afinal de contas, só tinham ficado com pouco mais de 40% do que colheram. Muitas passavam fome e frio. Então, um pequeno grupo delas decidiu ir até o abrigo das cigarras, para pedir um pouco de comida. Chegando lá, perceberam que era um lugar iluminado, quente e aconchegante e todas as cigarras estavam fartas e ainda sobrava muita comida. Muito diferente do que viviam as formigas em seu formigueiro.

TOC TOC TOC

Ao abrir a porta, a cigarra que mal podia ficar de pé, de tão empanturrada que estava, olhou com desprezo para o grupo de trabalhadoras ali em sua frente. As formiguinhas, então, começaram a falar:

Isso não é justo, depois de todo o trabalho que fizemos e de tudo o que carregamos... Vocês cigarras não fizeram absolutamente nada, apenas tocando e dançando ao longo de todo o ano...

Mas antes que pudessem terminar a falar a cigarra passando a mão sobre a barriga proeminente e com um tom de deboche, proclamou de forma desinteressada:

- Sim, por todo o ano, nós tocamos e dançamos, agora é a hora na qual vocês dançam! – E bateu com a porta na cara das formiguinhas.

FIM

Moral da história: Existe muita IMORALIDADE em algumas histórias.

Duke Webwriter
Enviado por Duke Webwriter em 01/06/2009
Reeditado em 31/08/2010
Código do texto: T1626546
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