CASO DE AMOR ÀS PALAVRAS
Não sei se todo mundo perde tempo com coisas inusitadas . Gosto de etimologia. Isto bastaria para não revelar excentricidades. Mas fuço, questiono e me digladio com palavras. Costuma dar em nada, mas me diverte. Selecionei dez durante uma exaustiva ruminância mental (bonita essa, não?) para apreciação dos meus parcos mas valiosíssimos leitores.
Conurbação:
Quando vi, eu também pensei nisso que você está pensando aí agora. Mas nada tem a ver com cornos, nem com masturbação. É o processo de crescimento de várias cidades próximas, que vão se juntando, se confundindo, até formarem uma região metropolitana. Mas, aqui pra nós, não dá uma ligeira vontade de pular o muro?
Cizânia:
Não é nenhum país da Ex URSS, que depois da tal cizânia virou CEI, nem nome de mulher, apesar de eu ter tido uma colega de nome parecido, Cirzene. Aquela, sim, unia muita gente em torno de si. Uma belezura!
Lascívia:
Me acompanha desde a adolescência, mas não é mulher. Apesar de só ficar me provocando.
Idiossincrasia:
Gosto dessa palavra, menos pelo som que vibra meio travado e mais pela significância relativa dos modos das gentes. Os olhares, os falares e os agires. Parece idiotia e às vezes pode ser mesmo um traço do comportamento.
Somatização:
não é nenhuma operação contábil, embora remeta a transferência. Não para crédito, mas débito para um órgão do corpo, que fica com o peso que a cabeça não agüenta ou não processa.
Claudicante:
Ah, essa é meu martírio! Sempre tive a intuição que queria dizer vacilante, incerto. E é mesmo. Só que fuçando nas origens, vi que Cláudio significa manco, claudicante, vacilão. E não é que meu nome é Cláudio? Ainda bem que manco por enquanto só da cabeça!
Mesquinho:
Uma palavra tão bonitinha! Mas ordinária, infelizmente! À primeira vista, fica parecendo um apelido carinhoso de Tomé. Não, se bem que Tomé ( famoso apóstolo) até que não era mesquinho, mas duvidava de muita coisa que não podia ver antes.
Limbo:
É a parte que me cabe no universo. Mas, cá pra nós: não parece alguém falando “lindo” com a boca cheia?
Pusilânime:
Sempre que eu lia ou ouvia essa palavra, ficava martelando, martelando, martelando na minha cabeça. A ponto de me levar a associar a palavra a uma martelada, significando uma coisa incisiva, uma inconfundível pancada. Dizem que poucas pessoas a usam por ser uma palavra muito forte, muito contundente. Ai mesmo é que eu associava a uma martelada. Descobri que sou mesmo um covarde. Demorei demais para ir consultar o dicionário. Uma covardia!
Inato:
Essa é a minha eterna implicância. Amor e ódio caminham lado a lado. Tudo o que já nasce com o sujeito é inato. Existe uma outra definição que é de algo ou alguém que não nasceu, mas ai não vale. É mais confusão. Podia ser nato, nascido, herdado, mas não! É inato. Veja bem: um cara desavisado é incauto, um outro que ninguém agüenta, é insuportável, algo que não acabou é inacabado. Quem não é feliz é infausto. E eu tenho esse tipo chato (que não é inato, viu?) É adquirido de tanta implicância.