O GATO COMEU
CENA I - Começa com um desses pintinhos que são vendidos na feira, engraçadinhos, uma verdadeira tentação para as crianças. Tanto que Dona Maria, cedendo à insistência dos filhos, adquire um exemplar. O único receio da mulher é expor o pintinho ao apetite dos gatos da vizinhança.
Nos primeiros dias é aquela festa no quintal. Mas a avezinha vai crescendo rapidamente. Em pouco tempo está quase do tamanho de um pombo, perde o encanto e a graça, não atrai mais a atenção das crianças. Só dos gatos, que passam a rondar com mais frequência o quintal.
Com a casa em reforma, o frangote já representa um estorvo. O jeito é metê-lo numa gaiola velha, há muito esquecida em meio aos cacarecos, até que se arranje um destino mais apropriado para a espécie.
CENA II - O pedreiro, que atende pela alcunha de Bigode, retorna a casa depois do expediente, a fim de apanhar uma ferramenta. A essa altura, já havia visitado o boteco e se encontra meio chumbado. Nessa circunstância, é seduzido pelo franguinho engaiolado e fica a namorá-lo. Dona Maria, que por razões óbvias o acompanhava à distância, aproxima-se.
— Se gostou, pode levar...
— Posso mesmo ficar com o passarinho?
— Passarinho?! Ah! sim... É seu. — confirma a mulher, não se empenhando em desfazer o equívoco. “Fica por conta da cachaça”, pensa.
CENA III - Manhã do dia seguinte. O Bigode aparece amuado, esquisito. Dona Maria, imaginando que ele queira botar tudo em pratos limpos, adianta-se:
— Que é que há, homem?
— O passarinho, Dona Maria... De noite, vendo o bichinho ali na gaiola, bateu o remorso e resolvi lhe dar a liberdade. Quando o botei no parapeito da janela pra que ganhasse o mundo... Coitado!...
— Deixa de ser reticente, homem! Desembucha logo!
— Ele não conseguiu voar e estatelou-se no chão. Veio um gato e... traçou o coitado.
— Sinto muito, Bigode! Mas confesso que o bichano foi mais esperto que você... Afinal, ele não comeu gato por lebre.
— !!!
* * *