Não se sentindo gente...
Acordou sentindo-se mal após a festinha liberal, mas tão liberal que nenhum dos convidados era capaz de encontrar dentro de qualquer conceito moral um espelho de conduta. Estava experimentando o dia seguinte feito alguém contaminado pelo vírus da gripe. A brutal constipação que ameaça varrer o mundo como a limpeza de um chiqueiro. Era uma espécie de homem do tamanho de um rato, diante da casa bagunçada, e com a empregada de greve por tempo in determinado.
Não sabia sequer como aquelas pessoas tinham ido parar lá, na cobertura 201, cujo dono era ele, homem famoso da televisão. Também não lembrava como os convidados, se é que eram convidados, haviam zarpado deixando tanta roupa íntima espalhada pelo tapete do apartamento. A sala parecia uma loja de lingerie.
A dor de cabeça era intensa além das aftas e do enjoo interior da própria existência. Estava padecendo de um princípio de náusea semelhante ao excesso de galinha com quiabo. Enojo que acomete os desgraçados no auge da fama como ele. O sofrimento e a culpa roíam-lhe as piores explanações. Cheirava ainda a cigarro e outros odores de floresta virgem quando resolveu procurar o doutor Barata Vasconcelos. Psiquiatra célebre na ciência por ministrar tranquilizantes ao canarinho para desfrutar a sesta, além de possuir um aparelho de som enérgico, que ligava somente quando o drama alheio excedia a sua impecável paciência técnica.
- O que é que há? Indagou-lhe o químico da alma.
- Doutor eu não estou me sentindo “gente”. O Barata Vasconcelos abriu calmamente o telefone celular, girou o inútil estetoscópio, estourou o o balão de chiclete, penteou o cabelo até ouvir o “bip” seguido de “alô” notavelmente gemido da mulher.
-É a minha Helena? Heleninha, amor, como é a expressão que você diz quando não estou me sentindo gente?
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A resposta de dona Helena será omitida desta página até por questões de política editorial unilateral.
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