ETIQUETA

Mais vale ser espontâneo do que sofrer a dura necessidade.

Porque todo homem é aquilo que vive e trabalha, luta e sofre; e não aquilo que o domina e oprime.

Digo isto para justificar o que se passou.

Somos escravos das regras de convívio social.

Cultivar boas maneiras, dizem, facilita bastante a convivência com outras pessoas.

"Frescurinhas" que às vezes nos oprime.

Quando somos convidados para jantar na casa de alguém, o bom senso nos diz para fazer uma "boquinha" em casa antes, para não parecer ávido demais na hora da mesa.

Conselho que a gente esquece.

E só lembra depois do fato consumado.

Eliezer é boa pessoa, muito meu amigo.

Mas possui inconveniente franqueza.

Fomos jantar na casa de um conhecido, francês residente no Brasil, que preserva a sua tradição de servir pouco em pratos pequenos.

Comidinha bonita, bem decorada, cheirosa, que não enche a barriga.

A refeição foi parca.

____ "Coma devagar Eliezer," - cochichei a título de conselho. "Não é legal comer rapidinho coisa pouca. Você só vai repetir se o anfitrião oferecer."

Valeu o alerta.

Eliezer se comportou como reza o figurino.

O constrangimento ficou para o final.

Ao despedirmos o anfitrião nos levou até a porta.

Cumprimentou-me e depois cumprimentou Eliezer dizendo:

____ "Eu espero que o senhor possa nos dar a honra de jantar conosco outra vez."

____ "Certamente, com muito prazer!" Respondeu ele faminto. "E agora mesmo, se o senhor quiser!"

E retornou apressadamente para a sala de jantar.

Araçatuba-SP, 06-05-2009

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