O mau-humor do Edegar
Confidencia-me o Edegar, no restaurante:
“Tem vezes que tenho ganas de esganar alguém. Sou impaciente. Se quiserem me ver estourar é só me botar na fila do banco. Fico fulo quando um idoso, de bermudas, bronzeado, carregando a raquete de tênis, se mete na minha frente. Idoso é o cacete, é pode escrever, não tenho medo de ninguém, bota aí, é o cacete!
E o pior é que o tal idoso é bem sarado, com uns braços peludos e bem definidos. Se chamar pro pau, é capaz de me cobrir de po.., isso, é, de pauladas.
Tenho de agüentar. Depois chega um sujeito de bermudas também, com uma pastinha debaixo do braço e tira lá de dentro uma papelada interminável. É o famoso office boy, sujeitinho abominável, puxa saco de todo o mundo que vem cheio de contas pra pagar. Pêra aí, amigo, o seu lugar na fila é pra uma pessoa apenas. Se você trás as contas de vinte pessoas é como se tivesse ocupado vinte lugares na fila. Mas não. Temos que gramar na fila. Depois chega outro idoso.
Olho pro cheque que quero descontar na boca do caixa, e me pergunto se vale a pena. Trezentos merréis. Acho que vale, vou sair daqui e comer um filé, pensei .”
Bem Edegar, a vida é assim, você é um idoso que pintou o cabelo e não pode entrar na fila dos idosos. Não conseguiu se aposentar ainda, não tem emprego, vive de bicos, aposta nos cavalos, gosta de um chopp, conseguiu uma grana, então vamos aproveitar...
Fico pensando se essas histórias com o Edegar são dignas da seção de Humor, e concluo que sim, já que Humor pode ser Bom Humor ou Mau Humor, e o Edegar é mau humorado pra diabo. Mas fica mais afável quando acerta nos cavalos, ou depois de alguns copos de chopp. Como agora, comi um filé, bebi uns chopps e o Edegar vai pagar a conta. Afinal, descontou um cheque de trezentos reais no banco, e o cheque nem era dele! Pra agüentar o mal humor dele só mesmo assim: pagando.
Permanece a dúvida: mal ou mau humor? Sei lá.