Pelo menos...

Aposto que vocês já repararam no emprego repetido da expressão “pelo menos” e o quanto ela está em voga. Está na moda em todos os lugares televisivos, pelo menos. O locutor de futebol narra uma desgraça esportiva referindo-se aos gols fatídicos com um notável “pelo menos três gols”. Virou praxe: pelo menos cinco pessoas morreram dentro do táxi. O terremoto ceifou pelo menos uma cidade e dois turistas. Com todo respeito aos fatos dolorosos, horrendos da natureza implacável, esmagadora, impiedosa, pelo menos não disse que a turma que ficou lá fora deve se sentir gozando um "camping" fora de série!

Em conflito armado, na batalha campal, na revolta contra a tirania morreram pelo menos, ou ainda: pelo menos saltaram para fora do navio pirata os tripulantes, já que o ágil e pobre capitão ficou refém por uns dias amargos na costa oeste da África. Vejam com atenção que a pirataria moderna “pelo menos” livra a tripulação civil. Na pirataria moderna não temos notícias de "pernas de pau" que ocuparam de vez os estádios de futebol. Pelo menos o jogador que abandona o esportel, enfastiado, honestamente, sem vontade de criar jogadas; pelo menos não emprega metáforas de gelo para desabafar: perdi a graça da jogatina insossa. Vou voltar para casa pelo menos.

Há pouco tempo “como um todo” estava nas paradas de sucesso da comunicação de massa. “Como um todo” andava

em todas as bocas, bocarras e boquinhas da garrafa. Por aqui nesta formidável e modesta cidade interiorana de extremadura, Santa Vitória do Palmar, esta fantástica cidadela que permaneceu Campos Neutrais por certo tempo e possui uma só estátua de “fundador”; está na moda verbal da meninada sem cartilha, nem “ENEM” a expressão maior do desencantamento juvenil, dizem: “pior!”. Pior para tudo.

- Cara, viu o apoio dado pelo premier de um país vizinho ao outro em greve de fome?

- Pior.

Aproveitando pelo menos a indagação sigo imaginando o recado: Caro Premier continue sem comida até que a reeleição fique vitalícia.

O meu espanto sobretudo consiste no fato de que minha imaginação cobre os fatos dizendo em crônica: jamais devia faltar comida para chefes de estado, eu me preocupo com eles. Devia ser lei, pelo menos, comida aos chefes de estado. Pior é a perpetuidade no poder pelo menos como um todo.