A picada da cascavel
Na madrugada, os dois compadres, Januário e Juvêncio, caminhavam silenciosamente por várias horas, atravessando uma região de mata e capoeira – fracamente iluminada pelo clarão da lua - em direção aos sítios onde moravam. Estavam voltando de uma caçada até certo ponto satisfatória: duas pacas e três cutias, o que valeria alimentação garantida por uma semana para as respectivas famílias.
Em certo ponto da caminhada, Juvêncio abaixou-se para retirar um cipó preso na sua alpercata e, de repente, deu um grito:
- Compadre, senti uma picada no calcanhar! Compadre, fui mordido por uma cascavel!
Cascavel, o terror dos caminhantes noturnos do sertão maranhense! Januário ficou aflito:
- Tem certeza, compadre?
- Tenho, compadre, senti a picada!
- Então, vamos andar depressa, compadre, você tem que chegar rapidinho à cidade e tomar uma injeção de soro antiofídico antes que o veneno faça efeito completo no seu corpo!
E retomaram a caminhada com redobrado vigor, mas, como é sabido, o veneno da cascavel age velozmente ao penetrar no sangue. Mais alguns instantes e Juvêncio jogou-se ao chão, febril, com intensos calafrios e suando abundantemente, lamentando-se de dor e mal estar generalizado:
- Não dá mais, meu compadre, não dá mais! O veneno já está agindo, estou mal, está tudo escuro na minha frente!
Januário não pensou duas vezes: sertanejo rijo e forte, colocou o compadre quase moribundo nas costas e retomou a caminhada em largas passadas. Depois de duas horas chegaram aos seus sítios. Januário alarmou toda a gente:
- Corram aqui, depressa! O compadre Juvêncio foi mordido por uma cascavel! Passem-me um lampião, depressa, deixa eu olhar o ferimento, talvez ainda dê tempo de fazer um sangramento!
Seguiu-se um tumulto generalizado de passos, vozes e gritos dentro da casa. Alguém passou um lampião para Januário que focou o calcanhar de Juvêncio para examinar de perto a picada da cascavel.
Tomou um susto. Olhou para cima, fechou a cara, já com toda a preocupação convertida em raiva, deu um forte murro nas costas de Juvêncio, e berrou:
- Cabra safado! Frouxo! Me fizeste andar contigo nas costas de graça! Picada de cobra, coisa nenhuma, cabra frouxo!
E mostrou para todos: Juvêncio, segundo o costume dos sertanejos, sempre andava com uma peixeira longa e afiada, envolvida por uma bainha cortada na ponta e pendurada no cós das calças. Quando se abaixara para tirar o cipó de sua alpercata, a ponta da peixeira picara-lhe o calcanhar.
Na madrugada, os dois compadres, Januário e Juvêncio, caminhavam silenciosamente por várias horas, atravessando uma região de mata e capoeira – fracamente iluminada pelo clarão da lua - em direção aos sítios onde moravam. Estavam voltando de uma caçada até certo ponto satisfatória: duas pacas e três cutias, o que valeria alimentação garantida por uma semana para as respectivas famílias.
Em certo ponto da caminhada, Juvêncio abaixou-se para retirar um cipó preso na sua alpercata e, de repente, deu um grito:
- Compadre, senti uma picada no calcanhar! Compadre, fui mordido por uma cascavel!
Cascavel, o terror dos caminhantes noturnos do sertão maranhense! Januário ficou aflito:
- Tem certeza, compadre?
- Tenho, compadre, senti a picada!
- Então, vamos andar depressa, compadre, você tem que chegar rapidinho à cidade e tomar uma injeção de soro antiofídico antes que o veneno faça efeito completo no seu corpo!
E retomaram a caminhada com redobrado vigor, mas, como é sabido, o veneno da cascavel age velozmente ao penetrar no sangue. Mais alguns instantes e Juvêncio jogou-se ao chão, febril, com intensos calafrios e suando abundantemente, lamentando-se de dor e mal estar generalizado:
- Não dá mais, meu compadre, não dá mais! O veneno já está agindo, estou mal, está tudo escuro na minha frente!
Januário não pensou duas vezes: sertanejo rijo e forte, colocou o compadre quase moribundo nas costas e retomou a caminhada em largas passadas. Depois de duas horas chegaram aos seus sítios. Januário alarmou toda a gente:
- Corram aqui, depressa! O compadre Juvêncio foi mordido por uma cascavel! Passem-me um lampião, depressa, deixa eu olhar o ferimento, talvez ainda dê tempo de fazer um sangramento!
Seguiu-se um tumulto generalizado de passos, vozes e gritos dentro da casa. Alguém passou um lampião para Januário que focou o calcanhar de Juvêncio para examinar de perto a picada da cascavel.
Tomou um susto. Olhou para cima, fechou a cara, já com toda a preocupação convertida em raiva, deu um forte murro nas costas de Juvêncio, e berrou:
- Cabra safado! Frouxo! Me fizeste andar contigo nas costas de graça! Picada de cobra, coisa nenhuma, cabra frouxo!
E mostrou para todos: Juvêncio, segundo o costume dos sertanejos, sempre andava com uma peixeira longa e afiada, envolvida por uma bainha cortada na ponta e pendurada no cós das calças. Quando se abaixara para tirar o cipó de sua alpercata, a ponta da peixeira picara-lhe o calcanhar.