APANHEI.... MAS SALVEI MEU VESTIDO!....
APANHEI... MAS SALVEI MEU VESTIDO!...
Toda criança tem, a certa altura da infância, aquele sentido de posse em que lhe é difícil partilhar o que quer que seja depois de entender que aquilo é seu. Assim que se sente ameaçada em seu domínio, logo recolhe o brinquedo, ou a roupa, ou reage em relação ao seu quarto avisando desafiadoramente: - É meu!...
Toda mãe sabe disso e respeita esse direito, entendendo que é um aprendizado natural da criança. Cada um passa pela experiência com maior ou menor facilidade...
Eu, como qualquer criança, não escapei dessa fase. Só que, com relação às minhas roupas, tive uma reação de posse bem maior do que com qualquer outro bem. É que, com o crescimento, logo perdia aquelas vestimentas prediletas e minha mãe tratava de repassar meus vestidos para uma prima, ou qualquer outra criança que pudesse usá-las. Como eu fazia um estardalhaço ao ver as roupas irem embora, ela optou por dá-las, muitas vezes, sem o meu consentimento ou conhecimento. Quando dava pela falta, ficava super chateada e dava meu show particular.
Um dia, ao sair com minha mãe, ouvi a conversa dela com uma amiga recente sobre um vestido meu. Essa amiga desejava o meu vestido emprestado para “tirar modelo” como se dizia... Fiquei por ali só prestando atenção na conversa e temendo pelo “desaparecimento” do mesmo. Minha mãe respondeu que sim, que emprestaria com prazer. Mas, com cinco anos de idade, não me convenci desse empréstimo, ficando na “mutuca”, vigiando o mais que podia, para resguardar o meu vestido.
Vários dias depois, a mesma senhora encontrou-me na rua brincando, e aproveitou para pedir-me para relembrar minha mãe, do empréstimo. Respondi-lhe que daria o recado. Mas, cadê que dei?... Nada... Fiquei quietinha com medo de falar...
Passado mais outro tanto de tempo, a mulher tornou a encontrar comigo e perguntou-me:
-Ângela, você deu o recado à sua mãe?
Respondi na maior cara-de-pau:
-Dei sim senhora!
Ela tornou a perguntar:
-E aí? O que ela disse?
Na maior cara limpa respondi:
-Olha, ela mandou dizer que,
OS VELHOS NÃO SÃO DE DAR, E OS NOVOS NÃO SÃO DE EMPRESTAR!!!!
Nem preciso dizer que a amiga recente virou inimiga mortal, nunca acreditando que aquela frase tivesse sido fruto da minha cabeça, e sim, do que, provavelmente eu houvera escutado...
De nada adiantaram os pedidos de desculpa de minha mãe, que, ao levar o vestido, soube do ocorrido, e viu recusado o empréstimo.
Levei uma sova..... Mas salvei minha roupa!......
Hoje quando ouço meu neto falando “coisas de arrepiar”, relembro minhas tiradas semelhantes de esperteza e verifico a verdade fatal: É.... Somos mesmo atípicos!.....
TEXTO VERÍDICO)