PAPO DE POETAS

PAPO DE POETAS

- E agora, José?

- Meu nome é Alcebíades.

- Ó meu! To sabendo. É que gosto de poetar.

- Então fala da pedra no caminho. O meu ta cheio de pedras.

- Pedras e espinhos... num beco sem saída.

- cê ta porreta!

- Porreta e sem grana. Nunca vi pindura assim.

- Mas no fim do túnel sempre há uma luz.

- Havia. Foi cortada por falta de pagamento.

- Êta pessimismo! Ta parecendo poeta romântico.

- Romântico e em depressão monetária.

- Já é um progresso. Se fosse antigamente, tava era tuberculoso.

- São os males do espírito. Hoje, como ontem, nada muda, embora tudo se transforme.

- Cê ta me assustando!

- É que não vejo futuro.

- Viva o presente.

- Essa bosta d presente?

- Não precisa baixar o nível do palavreado. Um poeta como você...

- O poeta é livre nas palavras. Falo como quiser.

- Ta bom. Não precisa ficar nervoso. Só te digo uma coisa pra consolar: a esperança é a última que morre.

- A minha esperança já foi enterrada e ninguém assistiu ao formidável enterro dessa última quimera. Somente a ingratidão, esta pantera. Agora, só na outra encarnação.

- Pronto. Baixou o espírito do Augusto dos Anjos. Sarava misinfi! Só que ta falando besteira.

- Por que?

- Porque esperança nunca foi carne. Quem não foi carne, não pode reencarnar. Logo, esperança não reencarna.

- Essa é digna de Aristóteles. Silogismo perfeito.

- Também dou minhas cacetadas.

- Por isso é que sou seu amigo. Gosto de gente inteligente.

- É isso aí, ó meu! Somos dois intelectuais perdidos numa noite suja.

- Suja e sem dinheiro.

- Voltando a falar em dinheiro, cê tem algum?

- Só uns troquinhos.

- Dá pra que?

- Pra uma cerveja e duas paratis. E você? Como ta de grana?

- Tamos iguais.

- Então? O que estamos esperando?

antonio luiz fontela
Enviado por antonio luiz fontela em 25/03/2009
Código do texto: T1505098