O casal e a Lei Seca
 
 
Sábado à noite.Iriam finalmente sair da rotina de comer pizza , batata frita e assistir a um programa tosco de humor na tevê.Um casal de amigos os havia convidado para um encontro num barzinho.Há quanto tempo não faziam isso? Anos, talvez.
 
Ele, como a maioria dos homens, catou uma camisa no guarda-roupa, dobrou  as mangas, se jogou numa calça jeans um pouquinho mais nova e disse que estava arrumado.
 
Ela ficou no quarto :”Que roupa se usa hoje em dia para ir a um barzinho?”.
 
Pôs uma roupa, tirou-a, pôs outra, tornou a tirá-la e assim foi, até formar uma pilha de peças sobre a cama king size!!
 
Por fim, vestiu a primeira coisa que havia posto antes da montanha se formar, não sem antes dar uma passadinha com o ferro a vapor na vestimenta.
 
-Está pronta?
 
-Quase!
 
(Ela ainda estava passando a roupa e raciocinando se havia feito a escolha certa.)
 
Saíram.Atrasados, obviamente. Ele reclamando da demora dela em se vestir.Ela que não tinha roupa nenhuma que prestasse.
 
No barzinho, conversa vai, bebida vem, papo vai, porção de fritas vem...(Vem e fica! Fica alojada bem nos culotes!!! As porções que comi na adolescência se apropriaram dos meus quadris.Tirá-las daqui, só com processo judicial.Usucapião, sabe? )
 
Bem, algumas rodadas de chope depois,o casal já mostrava sinais de embriaguez.
 
O outro perguntou:
 
-  Vocês vieram de táxi, né?
 
-  Não, por quê? – rindo. 
 
-Ora, tô vendo vocês dois beberem. E a Lei Seca ,esqueceram? Quem vai levar o carro?
 
Da última vez que saíram a lei nem estava em vigor, haviam esquecido mesmo. E mais umas rodadas da loura gelada não seriam capazes de lembrar nem do caminho de casa:
 
-É melhor vocês chamarem um táxi.É perigoso dirigir assim. – disse a mulher.
 
-E o meu carro? Vou deixá-lo na rua?
 
- Não tem seguro?
 
- Tenho, mas...espera, tive uma ideia!!!
 
Na saída, se despediram com beijinhos e um “aparece lá em casa”.Coisa que todo mundo diz, mas nem acaba cumprindo.O casal foi embora e eles ficaram esperando.
 
Pouco tempo depois, apareceu o guincho:
 
- Meu carro deu problema. Acho que é a rebinboca da parafuseta (essa é clássica!)
 
O guincheiro não questionou.Enquanto o carro estava sendo içado pelo caminhão, o marido disse para a mulher:
 
- Genial a ideia que eu tive , hein?

No caminho se depararam com uma blitz policial.O guarda fez sinal para eles.
 
O homem ficou aliviado por não estar dirigindo.Seus olhos estavam vermelhos, denunciariam de cara o consumo de bebida alcoólica (o culote da mulher denunciaria que ela gostava de frituras).A esposa dormia debruçada em seu ombro.
 
-Documentos!
 
Viu quando o motorista do guincho assoprou no bafômetro e o policial deu a bronca:
 
- Dirigindo alcoolizado, hein, cidadão?O senhor vai ter de me acompanhar.
 
O passageiro assustado cutucou a mulher:
 
-Acorda! Acorda!

Ela acordou, talvez pensando numa rodada de batatas-fritas( desculpe-me, leitor, estou com fixação nelas hoje).
 
O guarda se aproximou e disse-lhes:
 
-Eu acho melhor vocês pegarem um táxi, porque o carro vai no guincho, ouviram?Peraê, vocês também beberam?
 
 
 
(Maria Fernandes Shu – 15 de março de 2009)