O ANIMADOR DE PAGODES

Havia em minha pequena cidade, quatro agências bancárias. Três viviam cheias e uma delas entregue às moscas. A direção do banco já cogitava fechar a agência deficitária. Resolveram dar uma "desfibrilada" nela. Escolheram a dedo um gerente comunicativo, farrista, bajulador, para tentar reerguer a agência.

O cidadão chegou cheio de vontade, dava tapinha nas costas dos clientes, oferecia cafezinho, frequentava velórios, casamentos, aniversários, enfim queria ser popular. Ao perceber que os clientes mais abastados eram disputados á tapa pelos outros bancos, resolveu mudar sua tática. Passou a frequentar pagodes e farrinhas na periferia, tentando conquistar a clientela de baixa renda. O primeiro balancete foi positivo, os depósitos subiram razoavelmente.

Ele era um bom violonista e razoável cantor. Todo final de semana, punha seu office boy para procurar os locais onde iria ter os pagodes e as farrinhas. Pegava seu violão, bebia umas pingas e chegava sorrateiro, e logo, logo se enturmava. Chamava para si todas as atenções, e arranjava sempre novos clientes para o banco.

Uma tarde de sexta-feira, perguntou ao boy onde tinha alguma farra. Ele respondeu:

-Lá no Bairro São João, vai ter um "bate coxa".

-Em qual rua?

-Ah, não sei bem, sei que é perto da torre de TV.

Lá pelas oito, ele se arrumou, bebeu duas pingas, afinou o violão, pegou o carro e rumou para o bairro São João.

Andou, andou pelo bairro e não viu nenhum movimento de festa.

Já desanimado, voltando para a cidade, deparou-se com um aglomeramento de pessoas em frente a uma casa.

-É aqui. Pensou.

Parou em frente, desceu do veículo com o violão na mão e perguntou a um cidadão:

-A que horas começa?

O cidadão admirado respondeu:

-Começar o que? O corpo só vai chegar à meia-noite, e o enterro vai ser amanhã ao meio-dia...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 06/03/2009
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