O MISSIONARIO EVANGELICO E OS PINGUÇOS

Certa vez em minha cidade, foi anunciado com grande alarde que viria aqui um famoso missionário, que prometia fazer exorcismos e curar do vício do álcool os pinguços.

Sua primeira apresentação foi concorrida. Armaram um palanque na praça da Capelinha de São José. O povo compareceu em massa. Alguns por curiosidade, outros por fé mesmo. O primeiro trabalho foi o exorcismo. Ele convocou alguns voluntários que achavam que estavam "com o capeta no couro" para subir ao palanque. Foi um "show" ele rezava em altos brados, passava a mão na cabeça da vítima, digo voluntário, e ela se contorcia, gritava ficava violenta, depois se acalmava. Foi um sucesso. Ao terminar seu trabalho ele convocou para a noite seguinte, os pinguços que queriam se livrar das tentações do demônio e se livrar do terrível vício. Pediu a todos que quisessem se curar, levar uma garrafa de pinga, que seria destruida alí mesmo.

As mães e mulheres dos pinguços ficaram entusiasmadas. No dia seguinte, novamente a praça se encheu de gente. D. Maria mãe do popular Catengo, um pinguço de primeira linha, convenceu o filho a ir lá receber a benção do missionário. Catengo, contrariado, acompanhou a mãe que levou uma garrafa de pinga. Todos que haviam levado as garrafas, foram convidados a deixar as mesmas em cima do palanque, que era a carroceria de um caminhão. O palanque ficou cheio de garrafas. O Missionário, começou a sessão, rezou, rezou, exconjurou o demônio e chamou algumas crianças que estavam na platéia e pediu para pegaram as garrafas e quebrarem todas, em um lote vago ali em frente. Catengo ali perto, ficou olhando os meninos pegarem as garrafas, a maioria pingas baratas, algumas sem rótulo. De repente ele viu duas garrafas de pinga da boa: Cristalina e Farrista, caras igual uisque 12 anos. Ele falou com a mãe:

-Mãe, eu recebi uma Luz Divina, vou ali ajudar a quebrar as garrafas.

E dito e feito, passou a mão nas duas garrafas e acompanhou os moleques ao lote vago. Ao chegar perto do local, ele saltou de banda e correu rua abaixo com as garrafas em direção a zona boêmia, que ficava dois quarteirões abaixo...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 16/02/2009
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