ANJO DA GUARDA

ANJO DA GUARDA

Meu anjo da guarda não é nenhum

Gabriel, Ariel, Miguel ou Rafael,

é mais modesto,

descrevê-lo é complicado,

meio opaco,

embora seja alado,

parece mais um operário,

até bigode tem,

igualzinho a um metalúrgico que conheci,

português de Santarém.

Na primeira vez que o vi,

fiquei um pouco decepcionado,

pois ele estava embriagado,

e eu também.

Mas como bêbados se entendem,

levamos o papo prá frente,

perguntei seu nome,

e se tinha fome,

ele respondeu, espontaneamente:

- anjo não come, Glub é meu nome,

o seu eu já sei.

Ofereci uma dose, ele topou:

- vai bebendo você, eu assimilo por simbiose.

Aliás, ultimamente, tenho muito assimilado,

Scotch, cerveja e cachaça,

sem falar no tira gosto,

e de toda essa fumaça,

desse vício horripilante,

que você me tem imposto,

de forma tão humilhante.

Se ao menos fosse um Havana,

ou um cachimbo britânico,

seria bem mais bacana,

faria inveja ao Satânico.

Mas não, você não quer nada, além

dos simples prazeres banais,

populares entre os mortais.

É bem verdade que também gosto,

não vejo a hora, todo o dia

de chegar o happy hour,

que espero em agonia,

vez que fique acostumado,

prá não dizer viciado,

com toda essa boemia.

Por outro lado,

tenho sido gozado

pelos anjos companheiros,

que não são seresteiros,

muito menos cachaceiros.

Eu já nem ligo mais,

porque tenho pouco trabalho,

você não me dá nenhum,

pois sendo um bêbado comum,

assim como um pirralho,

fica o anjo dispensado da guarda,

dela o próprio Deus se incumbe.

antonio luiz fontela
Enviado por antonio luiz fontela em 14/02/2009
Código do texto: T1439207