LAMPIÃO PUXANDO QUADRILHA

Decorria o mês de junho, em plena zona do agreste de Pernambuco.

Por essa época, o povo do sertão nordestino paga, com alegria no rosto, para divertir-se ao pé das fogueiras acesas, cantando, dançando e soltando rojões em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro.

Em uma dessas festas juninas, certo dia, à noitinha, Lampião e seus cabras deram numa fazenda suntuosa, onde o clima era só animação.

No terreiro do casarão da fazenda, uma quadrilha ia lá e vinha cá, de vento em popa, sob o clarão do luar e o fogaréu da fogueira, a qual fora erguida justo para São João. Véspera do dia do santo, dia 23 de junho, portanto.

Os casais de matutos, metidos em seus trajes típicos, exibiam muita galhardia e amanteigado sorriso nos rostos, embora tudo com muita simplicidade.

Foi daí quando o capitão Virgulino Ferreira, o temido Lampião, ao ver aquele espetáculo de dança tão bem ensaiado, ficou doido para também "colaborar" com a folia dos brincantes, na maioria dançarinos jovens.

E o capitão Virgulino assumiu o comando da brincadeira, mediante muito som da concertina, que gemia forte, dando as novas ordens assim:

" - Todo mundo nu!" - sendo, é claro, prontamente atendido. "Um dedo na boca e outro no c...!" - novamente todos cumpriram a voz de mando do importante e mais inusitado puxador de quadrilhas, que já reinou no Nordeste brasileiro.

Mas o capitão, agora, no passo seguinte da dança, exagerou na dose e pretendeu inverter as bolas: "- Ao contrário!"

Pois é... Ao contrário dos demais, um caboclo da roda, com cara de enfezado, titubeou e fez cera, no ato da inversão. Olhou bem para o dedo indesejável e, fazendo fuça de nojo, disse em tom enfático: " - Hoooome, tá danaaado!" Ao que, em cima das buchas, já de olho arregalado no matuto besta, Lampião, inquirindo o infeliz, fuzilou: " - Tá danado o quê, caaabra?!"

E o cabra, sem mais nem menos, temendo ser sangrado vivo: " - Tá danaaado de booom, seu dotô!" Foi mesmo assim que fez o caboclo, experimentando a prova, numa grande tirada política, pois mineiro nenhum teria tido igual presença de espírito.

Fort., 12/02/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 14/02/2009
Reeditado em 14/02/2009
Código do texto: T1438210
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