A megerinha domada
Era uma vez os meus dez anos...
Meu irmão Joaquim era bonitinho, louro, de olhos verdes, mas muito tímido. Eu também não era feio, mas, em comparação com o meu irmão, aos olhos das menininhas, era um sapo. Mas um sapo metido a príncipe e dado a cantar todas que via pela frente, anjas ou megeras. Além disso, a minha veia satírica, irônica, irreverente ou debochada, como queiram, se revelou muito cedo e, por essa razão, minha fama não era lá muito recomendável entre a turminha de saias.
Havia uma deusinha lá na nossa rua por quem eu vivia caído de paixão, mas ela simplesmente me olhava como se olha para uma meia furada e velha. Isso mexia com a minha auto-estima de garanhãozinho de plantão. Mas o pior era que ela se tomara de grande antipatia por mim e criticava abertamente o meu jeitão atrevido, "saliente", como diziam as meninas daquele tempo.
Mas, um dia, de repente, não mais que de repente, ela passou por mim, sorriu-me docemente, e fez um sinal de que queria falar comigo.
Fui correndo. Correndo, não voando! A deusinha, afinal, se rendia ao Don Juan de calças curtas...
Com uma vozinha maviosa e celestial, como são as vozinhas das deusinhas, ela perguntou:
- Tonico, podes me fazer um favor?
- Claro, tudo que quiseres, meu bem!
- Então, me entrega este recado para o teu irmãozinho lindo.
- Ora, não sou menino de recados!
- Então, nem pra isso serves?
Olhou-me como se olha um repelente batráquio e foi embora, com o seu miserável e odiado nariz empinado.
Era uma vez os meus dez anos...
Meu irmão Joaquim era bonitinho, louro, de olhos verdes, mas muito tímido. Eu também não era feio, mas, em comparação com o meu irmão, aos olhos das menininhas, era um sapo. Mas um sapo metido a príncipe e dado a cantar todas que via pela frente, anjas ou megeras. Além disso, a minha veia satírica, irônica, irreverente ou debochada, como queiram, se revelou muito cedo e, por essa razão, minha fama não era lá muito recomendável entre a turminha de saias.
Havia uma deusinha lá na nossa rua por quem eu vivia caído de paixão, mas ela simplesmente me olhava como se olha para uma meia furada e velha. Isso mexia com a minha auto-estima de garanhãozinho de plantão. Mas o pior era que ela se tomara de grande antipatia por mim e criticava abertamente o meu jeitão atrevido, "saliente", como diziam as meninas daquele tempo.
Mas, um dia, de repente, não mais que de repente, ela passou por mim, sorriu-me docemente, e fez um sinal de que queria falar comigo.
Fui correndo. Correndo, não voando! A deusinha, afinal, se rendia ao Don Juan de calças curtas...
Com uma vozinha maviosa e celestial, como são as vozinhas das deusinhas, ela perguntou:
- Tonico, podes me fazer um favor?
- Claro, tudo que quiseres, meu bem!
- Então, me entrega este recado para o teu irmãozinho lindo.
- Ora, não sou menino de recados!
- Então, nem pra isso serves?
Olhou-me como se olha um repelente batráquio e foi embora, com o seu miserável e odiado nariz empinado.