O fantasma do 24º BC
O prédio do 24º BC de São Luís do Maranhão, como toda velha construção que se preza, tem a sua história particular de assombrações: mulas sem cabeça, lobisomens que aparecem em meias-noites de lua cheia, fantasmas de ex-soldados e ex-oficiais que já morreram nas dependências do quartel, por acidentes ou outros motivos, etc.
Quando eu era garoto, me contaram esta história:
Nos fundos do quartel, de onde se projetava um gramado próprio para as peladas de futebol, e separado de um imenso matagal por uma cerca de mourões, havia um fosso que ficava cheio de água por ocasião do período invernoso. Um dos soldados, de sentinela por lá, em determinada noite, escorregara no fosso e morrera afogado. Depois disso, correu o boato de que a alma do soldado morto aparecia de vez em quando para o soldado que estava de sentinela, pedindo ajuda para livrar-se do afogamento. Em razão disso, os recrutas mais frouxos tremiam literalmente quando eram escalados para a vigilância noturna nos fundos do quartel.
Foi o que aconteceu com o recruta Zé Onofre, um medroso de carteirinha, quando recebeu a notícia de que naquela noite deveria dar guarda no temido local. Pegou o turno às 22:00 horas e assobiando uma canção para enganar o medo, evitando olhar para o fosso cheio de água da chuva, circulava pelo gramado para espantar o frio. Encostou-se na cerca de mourões para fumar um cigarro, mas, de repente, olhou para o relógio: meia-noite em ponto! Seus cabelos eriçaram! Quis recomeçar a caminhada, mas como se fosse um horrível pesadelo, sentiu-se preso fortemente por trás. Alguém o agarrava! Não tendo dúvidas de que era o seu colega morto, começou a berrar:
- Me larga, meu colega, me larga, pelo amor de Deus! Tu já morreste, não posso fazer mais nada por ti! Me larga! Socorro! Socorro!
Ouvindo os gritos, soou o alarme no Corpo da Guarda e a patrulha veio correndo, com as armas engatilhadas, prontas para um eventual combate. O sargento que comandava a patrulha, falou:
- O que está havendo, Zé Onofre, que alarme é esse? Ficou maluco?
E o Zé Onofre, com os olhos esbugalhados de pavor:
- Sargento, é ele, o meu colega morto, que está me segurando aí atrás. O senhor não está vendo?
Estourou uma gargalhada geral. O sargento, espumando de raiva, gritou:
- Recruta, filho de uma égua, vais pegar uma semana de cadeia para aprender a não ser mais um cabra frouxo desse jeito! Olha para trás, cabra safado, olha!
Ainda com muito medo, Zé Onofre virou-se. A sua capa de chuva ficara agarrada a uma estaca quebrada que se projetava da cerca de mourões.