"Quem é vivo sempre aparece

Em pleno ataque de raiva ou quem sabe, lucidez, chegaria pra ele e como numa sentença, determinaria:

- E chega de oferecer "pérolas aos porcos"!!

Ou ainda:

- Nunca mais vou acender "vela boa para santo ruim", está me ouvindo?!?!

Imaginando tal cena, sentia surgir no canto da boca um sorrizinho sarcástico. Não sabia se a satisfação se devia a se ver expulsando o fulano dos seus dias, ou por usar ditados populares. Ele odeia frases prontas.

Ainda que só conseguisse lhe dar um cartão vermelho assim na teoria ou quando divagava, entendeu que talvez não fosse necessário "chegar às vias de fato". Encará-lo seria um desperdício de hormônios. Ficaria ansiosa demais, estressada demais e sentiria-se ridícula demais. Além disso, "a emenda poderia sair pior que o soneto"...

Mais do que isso, percebeu que na verdade ele não fora o único santo ruim a quem teria dedicado sua devoção nos últimos tempos. Isso, mais do que uma fase, já tinha se tornado um estilo de vida. Era sempre assim, suas paixões se tornavam epopéias. Verdadeiras tragédias gregas. Quase a busca pelo Santo Graal!

De repente, fazendo um flash back no capítulo Romances de sua própria vida, ela enfim percebia que, apesar de ter se envolvido com diferentes tipos de homem e nenhum poder ser comparado a outro a ponto de se dizer "cara de um, focinho do outro", na essência eram todos iguais. Ou melhor, a forma como lidavam com ela é que se repetira infinitas vezes. Mas talvez isso fosse apenas uma reação a seu próprio comportamento, imaginou.

Sem ter paciência para jogos de sedução, ela costumava ser prática e direta. Demonstrava claramente o que sentia, ou simplesmente, abria o jogo. E, como conseqüência, espantava o cara. Não entendia como isso acontecia, porque simplesmente acontecia. Aí então, lembrou de um amigo que um dia lhe disse que no fundo, no fundo, o que homem gosta mesmo é de “mulherzinha”. Do tipo à moda antiga, sabe? Que espera ser conquistada e não se “atreve” a dar o primeiro passo. Antes duvidara daquilo, mas agora começava a imaginar que talvez pudesse ser verdade.

De qualquer forma, não se sentia tentada a mudar. Aliás, não via a menor possibilidade de passar a ser uma “mulherzinha” de um dia pro outro. Nem mesmo em muitos dias. Sendo assim, não via outra solução a não ser continuar sua saga em busca de alguém valente o bastante pra viver uma história de verdade, sem cenas ou joguinhos. Afinal já era grandinha o bastante pra saber que se violentar tentando ser quem nunca foi, não era nada saudável.

Mas talvez, lá no íntimo ainda acreditasse que um dia, as coisas teriam um desfecho diferente. Vai saber, né? De repente, a história de que "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" pode funcionar.

Dani Marques
Enviado por Dani Marques em 29/01/2009
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