O Cravo e a Rosa
O Cravo e a Rosa. Quantos textos, peças teatrais, novelas, músicas e afins já não renderam deste título ou tema? Uma infinidade sem dúvida. Então, por que não mais do mesmo?
Dia comum, temperatura agradável, cenário propício para uma romântica conversa entre o Cravo e a Rosa.
- Oi... (voz doce)
- E aí. (seco)
- Tudo bem com você? (olhos brilhando...)
- É...levando. (sequíssimo)
- Sonhei com você esta noite... (suspiro)
- É? (indiferente)
- É. Foi lindo. (reverenciando...)
- Legal... (impaciente) mas,me conta, alguma novidade? (fingindo, mal, interesse)
- Nossa! Muitas! Deixa eu te contar... (empolgação)
- (Expressão de arrependimento...)
- Blablabla...blablabla...
- Hã...(Suspiro de impaciência...)
- Aí né...blablablabla...
- Hãhã...(Expressão de arrependimento e suspiro de impaciência...)
- Vai, agora me conta, como foi seu dia?
- Normal...trabalho, faculdade...normal, sabe...
- E o que mais? (ânsia...)
- Acho que nada, só isso.
- Como assim, não aconteceu nada de diferente, ou mesmo algo normal que queira me falar?
- Sei lá, nem tô lembrando direito do meu dia. Foi tão chato...
- Então tá, não quer não conta. (fingindo raiva com decepção genuína)
- Ah, não é isso. É porque não teve nada de novo, o de sempre. Pára de show, vai...
- Não é show!!!! (raiva genuína e decepção colocada em segundo plano)
- Tá bom então, vamos mudar de assunto.
- Ótimo. Sobre o que você quer falar?
- Bom, eu acho que pode ser de...
- Ah não, não consigo segurar. (demonstrando toda sua educação e cortando a frase e pensamento alheio ao meio)
- Sabe qual é seu problema? (continuando) Você só pensa em si mesmo, e é muito egoísta. Enquanto eu me esforço pra te deixar por dentro de tudo que acontece comigo, você fica fingindo que me escuta, com essa cara de "tô nem aí" e não me conta nada de você. Isso é muito chato. Eu já falo demais naturalmente, e ter de te ver com essa cara pra mim. Sabe, fico com a impressão que tá cansativo, que você está sem paciência, entendeu?
- Calma, não precisa se irritar. Você sabe que não é assim. (contemporizando)
Prossegue:
- Olha, me desculpa se te deixei assim; já te falei mil vezes que não estou sendo indiferente, é meu jeito! Não ficar com cara de bobo te endeusando enquanto fala não quer dizer quer não esteja prestando atenção ou te ignorando.
- Ah tá, quer dizer que eu fico com essa cara de idiota quando falo com você? (volta a decepção, entrecortada por fios de raiva)
- Não...(irritação fantasticamente dissimulada); olha só: vamos esquecer isso, ok? Me desculpa; eu gosto muito de você, não quero brigar, tá bom? (olhar profundo, mirando o fundo dos olhos)
- ...(mente fraca, semi comprada por papinho fuleiro)
- Vamos ficar numa boa?
- Sabe o que é chato? Isso sempre acontece e depois você fala, "não deixa pra lá e tal", e rola tudo de novo daqui a pouco! (gritos de desespero de um resquício de honra)
- E você sabe que é verdade, por isso reclama mas depois vê que não tem sentido brigar. (abrindo aquele famoso sorriso que sabe que, conjugado ao olhar de esguelha, é fatal...)
- Você é foda viu...(não, droga, o sorriso não...), esquece isso então. Me desculpa tá. Te adoro. (pisando na própria dignidade)
E a Rosa, daquelas modernas, responde docemente como só uma Rosa responderia:
- Claro que te desculpo meu bem. (Beijo estalado, no rosto, como se fosse uma punição)
Largando o doce e voltando ao normal.
- Então, vamos lá no Bar do Pomar derrubar um suco de cevada?
- Já é!
E mais uma vez a Rosa se dá bem sobre o Cravo. Ou não?