Garota sem limites

Quando era adolescente iniciando a puberdade, vivia tentando convencer minha mãe a me deixar fazer uma arte no corpo. Um dia ela foi nocauteada ao ouvir: “Mãe, eu vou fazer um tatuagem.” Mesmo assim ela não entregou os pontos:

- Não faça isso, você é lindo do jeito que Deus te fez! Exclamou Dona Lourdes.

Concordei com a sua expressão, mas reagi defendendo movimento deste tipo. Mesmo não tendo retorno conceitual de bons conselheiros. Dia desses, fui à casa de uma Vizinha, cuja filha tinha um rostinho impecável, mas sempre queria algo mais, não se contentava com sua beleza, ou melhor, não a reconhecia. Ao chegar fiquei surpreso com as duas discutindo. Procurei saber a razão da briga. Sua mãe esclareceu:

- Essa Garota sem limites, quer colocar um piercing, mas ela quer pôr em um lugar sensível que pode causar inflamação.

A Garota expressou:

- “É um lugar legal, pois os homens ver só se eu mostrar”.

Naquele momento suspirei fundo e tremi, mas logo criei coragem de perguntar o local. Ela então me respondeu alegre:

- É em minha língua, (risos).

Eu e a mãe nos olhamos. Naquele instante me veio um pensamento: “O mundo está tão materialista que não basta falar, é preciso que artifício de metal cause atrito nos dentes”.

Em seguida, a conversa tomou outro rumo. A Garota queria por que queria ir ao show da Ivete Sangalo. Tentei parecer gostar de shows, dizendo:

- Eu fui ao show do Oficina G3, e quero ir ao show do Ira.

Ela me encarou, não gostou da idéia. Em seguida falou:

- Chiclete com Banana, Babado Novo, isso sim, é que é bom. Pensei em dizer que gostos são relativos, mas como ela tocava, optei por sugerir:

- Quem sabe você e suas amigas não formem uma banda de axé chamada: “Felicidade instantânea”. Você tem tudo pra isso, basta querer.

A sua mãe sorriu pra mim. Em seguida um “playboy” buzina em frente ao portão, a Garota nos deixa e sai sem falar com sua mãe. Em questões de segundos ela estava nos braços de seu “Príncipe de Pupila Delatada.” Sei que ele trabalha como um cidadão de bem. Mas onde? Talvez, rala bastante usando a expressão: “Pai me dar dinheiro pra pôr combustível, mãe me empresta seu cartão.”

A mãe me olhou e disse:

- Esses jovens de hoje são difíceis.

E ela continuou me olhando e lacrimejando. Foi quando pensei:

- É...receber uma criação ganhado tudo e fazendo o que quer, pode ser um problema, mas...quanto eu queria ter sido criado assim.