NA MEDIDA CERTA

Dois homens públicos trocavam farpas e insultos durante um debate político e o mais exaltado deles, após fazer suas promessas de praxe para os seus prováveis correligionários, disse em alto e bom som:

- Ninguém neste mundo é parte mais interessada que eu em acabar com essa carência de moradias e com a fome desse meu povo sofrido e eu prometo que durante a minha gestão isso logo ocorrerá.

O outro, um pouco mais comedido e tentando tirar proveito do curto espaço de tempo que lhe era destinado, olhou rapidamente para os lados e querendo “aparecer” para aqueles jornalistas ali presentes, retrucou:

- Não fala bobagem, meu nobre colega. O déficit habitacional deixado pelo governo anterior é tão astronômico que nenhum de nós irá conseguir resolvê-lo jamais e a fome desse povo não tem tamanho...

Sem perder a pose, o político exaltado respondeu de pronto:

- Pelo menos eu prometo resolver os problemas na medida certa e o nobre colega que ora me critica o que faria no meu lugar?

Demonstrando muita calma, e procurando fazer uso de uma boa dose de prolegômenos, ele respondeu:

- Primeiramente eu pediria perdão a Deus, desculpas às pessoas presentes e aos telespectadores que estão nos assistindo. Em seguida ficaria de joelhos por alguns instantes e afirmaria que a mentira além de ser considerada um engano dos sentidos ou do espírito ela é uma atitude muita mesquinha do ser humano. Diria, outrossim, que se ela fosse um ser animado e pudesse se locomover livremente, o faria muito depressa, apesar de sua estatura muito abaixo do normal. Por fim, afirmaria com todas as letras que ela sempre seria um ser de pernas bem curtas.

Um daqueles jornalistas que faziam a cobertura do evento não se conteve com o jogo de palavras usado por aqueles “homens do povo” e partiu para o confronto:

- Chega de tapeação, vamos direto ao assunto, o nosso povo merece mais respeito.

Antes que os ânimos se acirrassem e que os demais jornalistas fizessem uso da palavra, ambos os políticos ficaram de mãos dadas e responderam a uma só voz:

- Muito pelo contrário, meu caro jornalista, não há em nossas atitudes nenhum desrespeito para com o nosso povo. O senhor é que não percebeu que apesar do curto espaço de tempo que nos foi concedido frente às câmeras nós procuramos fazer tudo na medida certa.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 03/01/2009
Reeditado em 03/01/2009
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