A bicha parteira
Aquela bicha costumava dominar o 18º andar do hospital. Sua personalidade extremamente forte e bem-humorada fazia sempre com que as pessoas se rendessem às sua travessuras. De origem baiana, sempre com seu sotaque carregado e emperequetada de seus cordões totalmente religiosos, falava sempre ao chegar que o que mais gostava naquele emprego, de faxineira no hospital público da cidade, era o ar condicionado. Dizia:
"- Lá na minha terrinha, o calor é abrazador, escruciante e estruginoso...oxente, ocê pára pra debaixo de um coqueiro e ouve aquilo assim: bululululululululu..., é a água de côco frevendo á nos côco..."
Em um belo dia, depois de um casal ter errado de andar, foi parar no 18º, que não era o da maternidade, mas era o da bicha ultra-criativa e divertida. A mulher estava em trabalho de parto a 12 horas, sofrendo coitada, quando seu nenê sismou de sair ali mesmo.
A bicha eufórica gritou:
"- Deixa que eu faço, - depois sussurrou - meu sonho!"
A mulher gritava de cá:
"- AAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRGGGGGGGGGGGGG!!!"
A bicha de lá:
"- Empurraaaaaaaaaaaaaa...."
Diante daquela agonia, finalmente nasce a criança.
"- Chora nenêm, chora nenêm, se não titia vai bater no seu bumbum." Falava de maneira carinhosa a bicha.
Nada do nenêm chorar.
"- chora nenêm, chora nenêm, ..." começando a perder a paciência...
Nada do nenêm chorar.
" Chora seu miserável senão vou te jogar lá em baixo, sua peste..."
Nada do nenêm chorar.
" Oxente, se tu num chorar te jogo lá embaixo, "- ameaça a bicha, abrindo a janela e colocando a criança pra fora...
Os pais quase deram um troço, que foi contido quando a bicha trouxe a criança pra dentro novamente. Mas de súbito a bicha jogou o nenêm do 18º andar, causando pânico total.
"- Meu filhoooooooooooooo, ..." em uníssono, pai e mãe.
A bicha tranquilamente com seu bom-humor sempre intocável:
"- To brincando, já nasceu morto...
Baseado em crônicas de um amigo, Diogo Nogueira, um mestre na arte do humor.