Para lembrar Cornélio Pires
O grande Cornélio Pires, já nos idos de l926, no seu livro Patacoadas contava causos da "sabedoria caipira" entre "causos e anecdotas". Dessas pérolas lembro-me de uma.
Passando por uma estradinha no interior, um viajante parou para perguntar a um caboclo sobre o caminho. -Por esta estrada eu vou chegar a tal cidade? O capiau, enrolando um cigarrinho: -Nhor, num sei não! - Então, se eu caminhar pela direita na encruzilhada, chegarei à Vila Tal? - Nhor, num sei não!
- E se porventura eu for pela esquerda, chego na Fazenda do Sr. Fulano? E o caipira na sua mansidão: Nhor, num sei não! Cansado das respostas o viajante grita com o matuto: Ora bolas, o senhor não sabe de nada? E ouve:- É môço! Mais eu num tô perdido não.
Outra boa, e tão velha quanto.
O camarada pergunta prum caipira:- Essa estrada vai prá Belo Horizonte? E o caipira:- Se vai, num sei, mais se fôr vai fazê uma farta disgraçada prá nóis.
Outra, mais recente, de quando os primeiros caminhões da GM começaram a percorrer as estradinhas de terra do interior.
Um motorista, com uma pane no motor, pára perto do barranco onde um capiau, sentado no cabo da enxada, fumando um "paiêrinho" observa seus esforços inúteis. A cada mexida no motor, e consequente insucesso, o caipira murmura:- Xééé. Nova tentativa, nova falha, e o caipira:- Xééé. Uma dezena de esforços e insucessos, o motorista pega uma garrucha no porta luvas e pensa:- Se êese caipira falar Xééé de nôvo, eu prego fogo nêle. Aperta uns parafusos, dá a partida, empunha a garrucha e encara o caipira que diz, olhando a grade do caminhão:- Xééé-vrôô-lééé.
Prá encerrar, uma frase em homenagem ao Palhaço Parafuso, grande cururúeiro e repentista dos bons tempos do circo:-
"Purquê quano eu canto sô um ispeto,
e quarqué perna de anu-preto serve prá fazê um virado.