Noel e o pugilista

...Ajudem Papai Noel a engordar depois do exaustivo trabalho que é presentear ficticiamente o mundo inteiro! O que fazia o bom velhinho no Halloween? Procurava casamento? Foram erguidos os mais duros protestos. Alguém gritou: vamos trocá-lo por um décimo terceiro! Havia uma algazarra medonha no local.

O pior Papai-Noel é aquele que chega na hora da ceia com fome natalina, devora o peru, sumindo; deixando apenas um rastro de peúgas amarelas do mesmo tamanho para todos. Para dizer a verdade estava pouco ligando se o Papai Noel de Tróia andava de cavalinho. Ruminou enervado coçando as barbas de algodão.

O coitado do Genival era pugilista e ganhava a vida se virando como podia. Apareceu com olho cubista de soco certeiro na pupila. Dentro da fantasia ninguém ligava e foram cedendo com reverência porque as crianças de hoje continuam de Nero.

Pousava para fotos com um cartaz dizendo: crise internacional. Precisava desculpar-se.

O fato de ter estacionado na contramão em frente ao shopping transformou o guarda no mais infeliz dos homens livres. Aquele que por missão e retidão de ofício estica a mão com a generosa multa. O xerife, como ele chamava o guarda, comentou candidamente: da próxima vez estacione as renas no lugar certo, velhinho! Tratava-se de um velho corcel amarelo de portas amarradas graças aos solavancos na estrada de pó do destino. Sobrava-lhe um olho torto (cor de violeta genciana), uma multa, além da pedra nos rins, se deslocando em meio às festividades. O dinheirinho viria no final em notas surradas como um bônus de noite feliz.

Lembrou do natal passado quando solicitou um violino de presente que nunca chegou. Foi abrindo com ansiedade o papel celofane para encontrar as luvas de boxe tão vermelhas quanto à fantasia da ocasião. Os amigos se reuniram para venerar o presente. Disseram com laconismo: com elas não será possível dar corda no relógio. Ou então que poderia arrumar crédito com estas “luvas” de garantia. Se deixasse a coisa livre para comentários o assunto descambaria até a carpintaria, deste modo acabaria como Gepeto por vias de São Nicolau pelas tábuas da razão enlouquecida.

Estava tão habituado a encarnar o personagem que voltava da academia vestido de bom velhinho. Veio-lhe uma vontade danada de modificar a própria história, casar, compartilhar as entregas. Caso abrolhassem filhos lhes ensinaria a rir do coelhinho pascoal, além de chocolates, com a mesma irreverência de um lutador fugindo da obesidade.