Gato de veterinário também sofre...

Típica terça-feira de primavera...Um vento infenal, que fazia a poeira entrar a toneladas através das telas. Calor excessivo durante o dia, que não tem ventilador que resolva, seguido pro uma queda brusca na temperatura no meio da madrugada, que faz com que qualquer um reabilite o edredon por questão de bom senso. Mas, não tenho do que reclamar. Os gatos estão perdendo menos pêlos e o aspirador agradece.

Bueno, tudo estaria perfeito se eu não notasse que o meu gatão, o queridinho peludo da mamãe aqui, andava indisposto. Após algumas investigações (e arranhões, pois ele não é nem um pouquinho chegado em termômetro, pois vai "naquele" lugar e apesar de castrado meu gato é macho e isso não se discute) descobri que o meu excelentíssimo gatão estava um pouquinho constirpado pois as graminhas laxativas que ele consome esturricaram no calor exagerado que anda fazendo por aqui, mesmo regando com todo amor e carinho. Nada que óleo mineral não resolva, diriam alguns...Alguns que não tem gato.

A manobra é quase de guerra: encher a seringa (sem agulha, claro), se aproximar pé por pé, pegar o gato e tacar goela abaixo o remédinho. Fácil, não? Quem me dera fosse! O meu gato vira um mini-Hulk peludo e esperneia, rosna, cospe, arranha e faz um escândalo daqueles antes de engolir a metade do conteúdo da seringa (a outra metade fica na minha roupa, no chão, na parede...). Mas como eu sou escolada, fiz o trabalho "ingato" e toquei a vida, de olho na caixinha de areia.

24 horas se passaram. Nada. Taquei uma dose dupla de óleo mineral goela abaixo no meu bichano.

48 horas. O desgraçado do gato não fez nem um mísero cocozinho e eu me desesperei. Era hora de partir para uma arma pesada...O supositório de glicerina.

Pra quem tem filho pequeno, o drama é conhecido...Mas aconselho a multiplicar por dez, pois um bichano entupido arranha tudo que se mexe ao sentir o primeiro centímetro do supositório adentrando seu recanto mais íntimo que não anda funcionando.

Enrolei o gato numa toalha velha. Pedi pra um amigo segurar o "pacote" urrante e que esperneava enquanto erguia a cauda do "gatinho", introduzindo o supositório (o que faz ele berrar como se estivesse matando...). Baixei a cola e rezei pra ele não por pra fora o negócio, enquanto ele bufava mais que eu quando descubro que recebi um cheque sem fundos de um cliente safado.

Meu amigo soltou uma piadinha: "Pra um gato pelotense, ele tá fazendo muito show por pouco. Relaxa, véio...Vai que tu goste..."

Em resposta a isso o gato esperneou furiosamente e expulsou o supositório. Entupido mais macho, pensei eu, já cogitando que o melhor era fazer logo um enema.

Antes que eu pudesse por o pensamento em prática, meu amigo bobeou e o gato escapou. Se escondeu e não conseguia achar.

Meu amigo foi embora dando risada, enquanto eu virava a casa de pernas pro ar atras do Gordo, furiosa, pensando que não tinha tanto lugar disponível assim pra um gato enorme feito o meu se esconder.

Meia hora se passou, nada do gato aparecer e eu estava entre o desespero e o remorso. Desespero porque o gato estava entupido. Remorso por ter enfiado o supositório, mesmo sabendo que era pro bem dele, ao invés de fazer logo um enema.

Já estava quase aos prantos quando escutei um barulho conhecido de areia sendo espalhada. Fui pro corredor e dei de cara com o Gordo, na caixa de areia, me olhando com cara de brabo, antes de fazer uma "obra" digna de Paulo Coelho e José Sarney dentro da caixinha.

O horror passou. Meu gato desentupiu!!!!

Feliz da vida, fui limpar a caixa, enquanto ele me fuzilava com o olhar, certamente se lembrando do supositório.

Resumo da opereta? O gato está ótimo. Voltou a comer, fazer arte e todas a bagunças de sempre.

Efeito colateral: não pode ver toalha ou qualquer caixa que remotamente lembre a caixa dos supositórios sem esconder o traseiro. Pensando bem, não tiro a razão dele...Não é a coisa mais agradável do mundo.

Por isso, tomei uma decisão e comecei a procurar outro tipo de estimulante para o funcionamento dos intestinos do meu felino favorito. Como não posso ter sempre livros do Paulo Coelho a mão, telefonei para uma amiga minha e pedi algumas Caras e Contigos velhas, que eu sabia que ela teria. Se for preciso, vou usar pra forrar a caixinha dele enquanto as graminhas não crescem novamente...Não é Paulo Coelho, mas a qualidade do que está ali escrito é bem parecida...

Zannah
Enviado por Zannah em 27/11/2008
Reeditado em 28/11/2008
Código do texto: T1307016
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