FATOS DO COTIDIANO NUMA VILA DE HIDROELÉTRICA - I by Marcio Valle

QUASE TODAS AS GRANDES HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS, E TALVEZ DO MUNDO, LOCALIZAM SE EM REGIÕES INÓSPITAS, LONGE DE CIDADES, O QUE IMPLICA EM MANTER, NA SUA ÁREA, OS FUNCIONÁRIOS QUE NELA TRABALHAM, E SUAS RESPECTIVAS FAMÍLIAS.

EM VISTA DISSO, CERTAS MEDIDAS DE SEGURANÇA E BEM ESTAR HÃO DE SER TOMADAS COMO POR EXEMPLO GUARDAS DE SEGURANÇA, HOSPITAL, COLÉGIO, ETC.

OS FATOS QUE NARRAREI, EM SÉRIE, A PARTIR DESTE, SÃO VERÍDICOS, E FORAM VIVENCIADOS POR PESSOAS AS QUAIS TIVE O PRAZER DE CONHECER.

NA HIDRELÉTRICA, ONDE RESIDI POR OITO ANOS, TRABALHAVAM PROFISSIONAIS QUE EXERCIAM SUAS FUNÇÕES DENTRO DAS NORMAS EXIGIDAS, MAS QUE, NEM POR ISSO, RENUNCIAVAM A SEUS RECEIOS E INQUIETAÇÕES PELO QUE DIZIAM OS MAIS CRÉDULOS EM FANTASMAGORIAS.

ENTRE ESSES MEDROSOS ENCONTRAVA-SE UM MOTORISTA (AO QUAL CHAMAREMOS PEDRO), QUE QUASE SEMPRE ERA ESCALADO PARA PRRESTAR SERVIÇOS NAS VIATURAS DO HOSPITAL, ENTRE AS QUAIS , ALÉM DA AMBULÂNCIA, HAVIA UM VEÍCULO QUE SERVIA NO TRANSPORTE DE PESSOAL TÉCNICO E ADMINISTRATIVO, E OUTROS MISTERES.

PEDRO, PROFISSIONAL COMPETENTE, CUMPRIDOR FIEL DAS ORDENS QUE RECEBIA, PAI DE FAMÍLIA EXTREMOSO, ERA, ENTRETANTO, CONFESSADAMENTE, MEDROSO DE “ALMAS DO OUTRO MUNDO! “

NA PARTE EXTERNA DA ALA DE SERVIÇOS DO HOSPITAL, HAVIA UMA COBERTURA QUE SERVIA DE GARAGEM, E JUNTO A ELA SE LOCALIZAVA O NECROTÉRIO, LOCAL ONDE PERMANECIAM OS CORPOS , ATÉ SEREM REMOVIDOS PARA O CEMITÉRIO.

ISTO ACONTECIA OCASIONALMENTE, MAS MUITAS VEZES OCORRIA DURANTE A NOITE.

NUM, DOS PLANTÕES, PARA O QUAL FOI DESTACADO, PEDRO, CANSADO DA FAINA DO DIA, RESOLVEU DEITAR-SE EM UM BANCO DE MADEIRA, QUE EXISTIA SOB A COBERTURA E QUE SE DESTINAVA AO DESCANSO DOS MOTORISTAS.

JÁ IA ALTA A MADRUGADA QUANDO UM DOS ENFERMEIROS VIU PEDRO E DISSE-LHE:

- VC VIU QUEM FALECEU HOJE?

- NÃO VI ! QUEM FOI? RESPONDEU PEDRO.

- O GERALDO MOTORISTA, E O CORPO ESTÁ AI NO NECROTÉRIO, DISSE O ENFERMEIRO... E ESSAS PALAVRAS DEIXARAM O POBRE DO PEDRO ARREPIADO E OBRIGARAM-NO A SE LEVANTAR MEDIATAMENTE. RECOLHEU-SE, ENTÃO AO INTERIOR DO HOSPITAL, NO CORREDOR QUE DAVA ACESO À ENFERMARIA E ONDE PODERIA DEITAR SE NOS BANCOS QUE LÁ EXISTIAM ... BANCOS, ALIÁS, BEM MAIS CONFORTÁVEIS...

ESTAVA ELE TRANQÜILO, QUANDO OUVIU UM BARULHO DE CHINELOS SE ARRASTANDO NO CORREDOR. JULGOU SER SUA IMAGINAÇÃO E NÃO DEU IMPORTÂNCIA MAIOR AO FATO. MAS, O BARULHO CONTINUOU E VINHA SE APROXIMANDO DELE...

LEVANTOU A CABEÇA E VIU UMA MULHER, DE CABELOS COMPRIDOS, VESTIDA TODA DE BRANCO, QUE VINHA SORRINDO...

QUANDO VIU AQUELA FIGURA NO MEIO DO CORREDOR, SOZINHA, ENCAMINHANDO-SE PARA O LADO DELE, LEVANTOU-SE E SAIU EM DESABALADA CARREIRA PARA O RECINTO DO PRONTO SOCORRO, JUNTO DOS ENFERMEIROS, E LÁ PERMANECEU TODO O RESTO DA NOITE APAVORADO...

TRATAVA-SE DE UMA INTERNA QUE, SEM SONO, RESOLVEU ANDAR UM POUCO E TOMOU O CAMINHO DO CORREDOR PARA PODER CONVERSAR COM OS PROFISSIONAIS QUE SE ENCONTRAVAM DE PLANTÃO NO PRONTO SOCORRO.

A PARTIR DAÍ PEDRO SEMPRE SOLICITAVA QUE O ESCALASSEM DURANTE O DIA, MAS, MESMO ASSIM NÃO SE AVENTURAVA A FICAR SOZINHO PRÓXIMO AO NECROTÉRIO...NA CONCEPÇÃO DELE “ O SEGURO MORREU DE VELHO!”

Com esse texto, Márcio, inicia uma série de "causos" que presenciou durante sua vida profissional passada em uma hidrelétrica brasileira.

Agadeço, carinhosamente essa contribuição ao nosso cantinho

Um beijo sonoro para todos!