VERSOS SATÂNICOS 37 ...São as águas de março...

Cabral, meu bom Cabral, mas aonde te meteste, afinal? Cada março que eu vivo tenho um sobressalto por que não consigo me desligar do Planalto. Embora, acredito e rezo, não espero noticias iguais àquela do dia dezesseis, quando brincando de reis, Fernando I e companhia meteu a mão no nosso dinheiro. Que turma aquela! Lembro daquele tempo como se fosse agora. Tu, sentando a espora naquela senhora que até tinha idade de ser tua nora, e que a bem da verdade era um bucho (mas e daí, tu também não era um luxo), empernado num arretante Besame mucho! Lembra? E o bacudo aqui ó, embuchado com o dinheiro confiscado, numa M de dar dó, me virando com modestíssimos cruzados.

A cada março me acordo no cagaço pensando de que lado vem o relhaço. As vezes chego a vergar o espinhaço antes mesmo de acordar, tal o trauma com este mês. E tu estás presente em todos os porquês. Sei lá, a tua imagem grotesca dançando com aquela fresca, totalmente alheios ao desespero do povo me vai e me vem sempre de novo e, por mais que o tempo tenha passado; que outros tantos governos tenham me enrabado, aquele foi especial. Foi meu primeiro voto para presidente e eu me dei mal.

Cabral, meu bom Cabral, por onde tu te esguelhas? Por certo que não rasgas mais orelhas. Na época meteste umas guampinhas na velha, tirando uma casquinha com a Zélia, e ela tirou um cascão contigo e comigo. Mas também lembro bem do teu castigo. Tiveste que largar a teta, não a murcha, a outra, a do ministério, e de lá para cá tua vida é um mistério. A Zélia é outra que sumiu do mapa. Deu uma ciscadinha guapa, teve um namorico com o Chico, fechou o bico, pegou o penico e nunca mais figurou na capa. Dizem (dizem...) que busca um novo valete e por isso anda colocando anúncio na internet. Bueno, se quando nova já era um bagulho, dezoito anos mais velha onde encontrará arrulho? Em que estado estará a Zélia? Era de uma feição quase trágica que, acho ainda não haver recurso. Nem botox, nem fio russo, talvez só com mágica. Mas, convenhamos, aonde achar oportunidade igual para melhor vingança? Que chance de resgatar minha poupança! Como é mais feia que o cadáver do Ivo, tomo um porre de Underbergue, que além de tudo é digestivo, me escondo para que ninguém me enxergue e até sou capaz de encarar a bruxa. Será? É bucha!

Dezesseis de março de noventa! Quando lembro que da minha poupança só me restou cinqüenta penso em ti, Cabral, e naquela nojenta. Fiquei mal. Queimei sorete para comer torresmo, custei a encontrar meu rumo até sentar de novo o prumo, andei por aí a esmo, mas não me curei do mês. Pior é que depois de vocês andam metendo ainda mais a mão, e tudo fica por isso mesmo.

Teu amigo PC era fichinha perto da companheirada que veio logo depois. Cada um vale por dois mais não sei quantos por cento. A diferença é que quem tomou acento, e era para ser idiota, não é. Não é poliglota, mas é muito mais esperto. Faz tudo parecer certo e quando a bronca começa a chegar perto tem sempre uma desculpa vazia: “eu não vi, eu não sabia...”.

jair portela
Enviado por jair portela em 22/10/2008
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