UM TEXTO SEM QUALQUER IMPORTÂNCIA
Antes de começar este texto quero deixar bem claro que se você, leitor ou leitora, não gostar do final que eu vou dar pode fazer uma reclamação diretamente a mim, caso não se contente em reclamar, pode ainda me processar se isso lhe conforta. Faço essas considerações, pois um amigo meu escritor publicou um livro e seis meses depois apareceu um sujeito querendo-o processar, pois não concordava com o desfecho da história, ele achava que o detetive não podia ser o criminoso, era algo que feria seus preceitos de leitor cativo dos grandes “blockbusters” literários, quando na verdade o tal desfecho era a grande sacada da história. Resumindo o caso que foi a tribunal, o sujeitinho conseguiu sucesso em sua causa e o escritor foi condenado a não escrever histórias em que o investigador torna-se o investigado, a partir de então o escritor passou a escrever histórias em que bandidos investigam os crimes que os policiais cometem.
Considerando que você que me lê seja uma pessoa muito ocupada, afinal todos estão sempre ocupados, nem que seja para dar ração aos peixinhos do aquário ou assinar um contrato milionário com estrangeiros que na verdade são terroristas disfarçados. Certamente você tenha percebido que eu enrolo demais, mas acredito que já esteja acostumado, a televisão faz algo semelhante em busca de audiência, e é algo tão importante que existe até um Instituto para medi-la. Imagino como seria se tivesse isso para escritor, apesar de que alguns sites de internet que abrem espaço para escritores fornecem a quantidade de leituras de cada texto publicado, o que não deixa de ser um termômetro. Fico a imaginar aquele rapaz ou garota que num insight conseguem uma idéia e a colocam no papel, depois lêem e corrigem, enfim publicam e anseiam por muitas leituras – quando se passa uma hora vão ver e só tem dez míseras leituras quando este ou esta esperava pelo menos umas trinta. Desânimo na certa. Sonhadores que são insistem em escrever, e uma segunda idéia lhes vêm (aliás, estou quase tendo depressão por saber que idéia não terá mais acento, deprimido ficará também meu analista por não saber como me curar por causa de um acento) então escrevem e publicam sem muita esperança algo que julgam ser mediano, mas aí para surpresa dele (a) o tal texto recebe quarenta leituras de uma vez. Engraçado que ocorre algo parecido na televisão.
Era pela última vez que ele estava indo a casa dela. Depois que saísse dali seria infeliz para sempre.
Pode ser o pior início de história, mas também não é um clichê literário.
Seu nome era Morte, quer dizer ainda é, pois a Dona Morte ainda não morreu. Ela diz que era pra ser Dona Marte, mas o estrupício do cartório errou. Dona Morte não está a beira da..., a beira de dar as botas, está bem aliás. É bondosa com o genro, pois um cara que tem uma sogra com o nome de Morte deve estar sempre bem calmo e tranqüilo. Mas como todos morrem, com a Dona Morte não seria diferente e eis que um belo dia ela parou de respirar. Estranho que o velório dela já estava pronto, só foi à velha parar de respirar para ser colocada dentro do caixão, mas antes de fecharem-no ela abriu os olhos e voltou a viver. A Morte não morria. Será que ela é própria Morte, aquela da foice? – sugeria a ala sensacionalista da imprensa. Fato é que a Dona Morte estava indo para trás da fila dos futuros falecidos e com certeza este texto vai acabar e ela não vai ter morrido.
Não gostou do final? Pode me contar. Não gostou do texto por inteiro? Conte também. Só para que saibam estou lendo atualmente As Intermitências da Morte, de José Saramago, o mesmo que escreveu Ensaio sobre a Cegueira, também assisti àquele filme do Woody Allen: Scoop – O Grande Furo. Quem assistiu e leu entenderá essa minha fixação momentânea, repito, momentânea, pela personagem Morte. E ponto final, pois minha dor de cabeça está aumentando.
09/10/08