Entre motos e borboletas

Tarde de sábado, você curtindo uma tremenda dor de cotovelo... Sem esperanças de que as coisas melhorem, decide abrir o MSN.

Só contatos que fazem volume. Meia dúzia de parentes, alguns amigos da faculdade, outros que moram longe, mas que também estão sem assunto... Aquela angústia por causa da droga da janelinha que não sobe. Cruzo as pernas, olho em volta, suspiro e lembro de um contato bloqueado... Olha a sacada: Vou apelar!!!

Se eu tivesse planejado não teria dado tão certo. Afinal de contas, eu tava era afim de sair, passear e comer (muito) de graça mesmo. Tudo certo para o que deveria ser o primeiro encontro da minha vida, aos 19 anos. E lá vamos nós, correr de moto na pista que leva até o novo aeroporto, estava tudo tão mágico, tão divertido... Andar de moto, sensação de liberdade com uma pessoa educada, inteligente, bem sucedida, corpo bacana. Enquanto sentíamos o frescor da brisa (na verdade era quase um vendaval, quase não consigo segurar o capacete... mas é pra manter o ar de romance) conversávamos sobre a vida, os desejos, onde estávamos durante todo esse tempo antes daquela noite e coisa e tal e tal e coisa... Era tão bom sentir o sussurro do vento, aquele zumbido no ouvido como se tivesse um inseto batendo asinhas lá dentro... PERAÍ!!! Era um inseto, e ele estava batendo asinhas no meu ouvido... Pronto, de repente todas aquelas luzinhas do amor haviam se tornado em trevas... E eu comecei a pensar na infecção que aquilo causaria (uma colega minha teve). Ainda prossegui com aquela coisa gritando no meu cérebro por uns 2 minutos até começar a socar a barriga dele, dizendo pra parar a moto. Eu tentei manter a calma, mas nem bem a moto parou eu pulei e continuei pulando (aqueles saltinhos que damos pra tirar água do ouvido), enquanto pulava começamos uma leve discussão sobre a real possibilidade de um inseto entrar num capacete totalmente fechado... Pior foi ouvir daquele “gentleman” que o hospital estava longe demais, eu argumentei durante os pulos que eu tinha convênio e ele não gastaria nada com a provável infecção e apodrecimento do meu ouvido, e o imbecil não parava de... O imbecil do inseto acompanhava meus pulos de agonia, quanto mais eu pulava e cutuvaca o ouvido, mais ele se debatia e zumbia. Eu comecei a suar, comecei a querer chorar, senti saudades da mamãe, senti saudades do papai, da minha vida antes daquilo tudo, imaginei como seria bom continuar entediada em casa sem pagar mico, quando eu estava quase desistindo de viver... Alguma coisa caiu em minha mão, mas era uma coisa tão, mas tão minúscula que fiquei sem graça pelo escândalo... Era uma borboletinha, miudinha e fofa... Fiquei olhando praquilo querendo sumir, pensando se eu deveria matá-la por uma questão de honra ou se deveria deixá-la livre... Ah droga!!! Ela já estava morta. Olhei pra ele com um sorriso de “minha vida é uma droga, mas mesmo assim sou feliz” e prosseguimos viagem. Alcancei meu objetivo comi que só. E continuei solteira.