AQUELA AMÉLIA ERA UMA BOBA

Dia desses ouvi meio por acaso a música de Ataulfo Alves e Mario Lago “Amélia é que era mulher de verdade” e concluí: aquela Amélia era uma boba. Onde já se viu passar fome e ainda achar bonito? Se foi o tempo da mulher submissa, do lavar roupa todo dia e amar de barriga vazia.

Há seis anos, dei de presente para minha companheira um esfregão para limpar assoalho de 12 quilos por sugestão do vendedor. Dizia ele que quanto mais pesado, melhor a limpeza.

Resultado: fomos parar na Vara de Família e o que a promotora me disse não gosto de lembrar. Passamos uma semana sem nos olhar. Aliás, eu é que não olhava pra ela. Presente agora só coisa leve: bibidol (será que é assim que escreve?), fácil de vestir e mais ainda de tirar. Perfumes, sapatos, e por aí afora.

Mas o homem é mesmo um animal inconseqüente. No seu penúltimo aniversário resolvi lhe fazer uma surpresa; convidei todas as suas amigas e preparamos uma janta em nossa casa.

Outro dissabor. Ela estava esperando que eu a levasse para jantar em algum restaurante. Acabamos brigando até as duas horas da madrugada. Foi o tempo que levamos para deixar a casa em ordem. E se você pensa que acabou aí, tá enganado. Tive que dormir no quarto de visita com as pernilongas (as fêmeas dos pernilongos). Eu não sei se elas estavam rindo de mim ou tentando me consolar, pois passaram a noite cochichando coisas ao ouvido que eu não entendia.

Em seu aniversário do ano passado, mudei de tática. Levantei cedo, colaborei nos afazeres domésticos, beijinhos, aquele abraço e “parabéns meu anjo, você não envelhece”. Se bem que esse "você não envelhece" mereceu um olhar de reprovação. Pertinho do meio dia, um carro de som fez ‘aquela’ homenagem a ela em frente a nossa casa. Foguetes, flores, frases de amor que eu mesmo preparei, melodias inesquecíveis de Julio Iglesias que ela adora e a velha “Eu te amo, te amo, te amo” do Roberto. Eu queria “Cavalgada”, mas o pessoal achou que em virtude do horário não seria recomendável.

Julguei ter acertado na mosca, pois ouvia: “Nosso vizinho é mesmo um sujeito apaixonado" - "Isso sim é prova de amor" - "O meu, quando lembra, só sabe me dar beijinhos". Elogios que me deixaram na expectativa de uma grande noite. E a ‘Cavalgada’ não me saia da cabeça.

- Quanto custou essa bobagem toda? – quis saber ao final do que ela chamou de fiasco amoroso.

- 128 reais! – respondi.

- Você não toma jeito mesmo; cada aniversário meu é uma furada. Isso dava para oito dias de carne, seu exagerado!

Concordei. Bonito não ter o que comer uma ova. Mais uma noite naquele quarto 'cavalgando' em cima da cama para matar pernilongos de ambos os sexos.

E ela prometeu: - “Os próximos irei passar na casa das minhas irmãs, chega”.

Ah, minha carinhosa Amélia se chama Amália.

Tristão de Tall
Enviado por Tristão de Tall em 06/09/2008
Reeditado em 06/12/2010
Código do texto: T1164779
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