A BUZINA DO PIPOQUEIRO.
Existem muitos sons que me fazem levar ao passado, como, por exemplo, alguns comerciais de TV. Destaco aqui (sem fazer “merchandising”. Rsrsrs...) o do famoso “D.D.DRIN”, o qual apresentava um grupo de insetos, em forma de desenho animado, imitando o conjunto musical “Secos & Molhados” que estavam no patamar do sucesso, no início da década de 1970. Hoje, este mesmo comercial está sendo reprisado, com a inconfundível música que vem diretamente do túnel do tempo em minha mente.
Outro som que me faz recordar minha infância é o barulho do cavalgar dos cavalos nas ruas pavimentadas. Tal barulho lembra-me quando, ainda criança, deitado em minha cama, ouvia a “Cavalaria da Polícia Militar” realizando a ronda da madrugada e, ao passar em frente à minha casa, trazia, naquele tempo, segurança e tranqüilidade que se misturavam aos meus coloridos sonhos. Engraçado eu tocar nesse assunto, pois nunca comentei com ninguém sobre isso!
Dentre outros sons e barulhos que me trazem recordações, está a buzina dos pipoqueiros. Muitos desses profissionais ignoram as limitações dos ouvidos de terceiros e exageram ao ecoar o som “travestido” de barulho. Vou contar-lhes um segredo: eu vim de uma família bastante pobre (de “marré de si” mesmo!). Minha mãe, viúva, sustentava dois “pimpolhos” hiperativos (eu e meu irmão). Defendia, com unhas e dentes, pelo menos a mistura do dia-a-dia, economizando no que podia, porém um pipoqueiro “sacana”, sabendo que, em minha casa, existiam duas crianças serelepes, parava seu carrinho em nosso portão e buzinava, insistentemente, para cima de nós que, ao escutá-la, corríamos, como desesperados, ao encontro de minha mãe, para que comprasse saquinhos de pipocas. Minha mãe, por diversas vezes, comprou e, por diversas vezes alertou o pipoqueiro que não parasse mais em frente à nossa casa, dizendo-lhe que sua situação era difícil e não podia mais custear nossas “choradeiras” pelas pipocas.
Com tamanha indiferença frente a seus pedidos, o inconveniente pipoqueiro parou, um certo dia, e começou a buzinar novamente em frente à nossa casa, porém minha mãe, naquele dia, não estava muito para brincadeiras e impaciente com a algazarra que fazíamos, pedindo-lhe pipocas, em conjunto com o barulho quase ensurdecedor do teimoso e insistente pipoqueiro, quase teve um “chilique”. Ela então pegou-nos (a mim e a meu irmão) pelos braços e, dirigindo-se até o pipoqueiro, pediu-lhe oito sacos bem cheios, quase transbordando, de pipocas, informando-lhe que era para “viagem”. Ficamos eufóricos, pois iríamos comer muitas pipocas e, mais eufórico ainda, estava o pipoqueiro, certo de que ganhara o dia com aquela “belíssima” venda. Ledo engano pois, ao pegar os saquinhos, ouviu de minha mãe:
- Esses (os oito saquinhos de pipocas) ficam como amostras grátis, entretanto, na próxima vez que o senhor voltar a buzinar aqui, em frente ao meu portão, seu carrinho ficará totalmente à mercê dos meus pequeninos “anjinhos”, ok?
Depois daquele dia, nunca mais ouvi o som da buzina daquele pipoqueiro em frente à minha casa, todavia, quando ouço (mesmo sendo, atualmente, adulto), o barulho da buzina de um pipoqueiro qualquer, lembro-me das pipocas que “desceram” garganta abaixo, ao sabor de algumas chineladas merecidas dadas pela minha querida e nervosa mãezinha.