Um bilhete para Didi
Didi, minha preta. Põe os lencóis da cama no varal, pode botá flor na casa toda. Lava aquele vestido amarelinho de chita que cê tem e que te deixa tão gostosa. Deixa o cabelo bem solto, até embaraçado pra que eu enrrosque os dedos mais fácil, e puxe pra te fazer me xingar.
Cê sabe que nessas andanças da vida, a gente acaba perdendo as rédeas... Mas é no seu quintal que eu sempre arrego de vez minha carroça.
Eu me sinto tão em casa com você dizendo que não tá nem aí, que
eu que me dane e estrupie todo, porque você já avisou tudo o que dava, mas eu não tenho jeito. E cê sempre tá lá pra me dar outra bronca. E dinovo, e outra vez.
Gosto de ver toda a tua dureza desfeita no meu colo, quando eu falo
manso e finjo que mudei. Mas tu é tão esperta que as vezes eu acho que é você que se finge de mole. Cê sabe bem o bicho que criou, né nega?
Eu to chegando assim que vier a lua nova. Coloca uma placa na porta pra que ninguém encha nosso pacová. Como vai estar calor por demais, deixa meu bermudão, aquele que você não gosta, fora do armário que é nele que eu vou me enfiar.
Tira qualquer objeto pontudo de cima da mesa da cozinha, pois é lá que eu quero te espalhar... e me faz aquele feijão que eu adoro.
Ahh! Faz também aquela cara de dona-de-casa-de-saco-cheio que eu acho linda.
Não lava demais as mãos, que eu quero sentir o cheiro de tempero
misturado com sabão em pó que elas têm.
Faça tudo isso mas não me espere. Quero te pegar de jeito, do meu jeito meio desavisado.
Um chêro
teu preto