... Verniz lírico
Gaste o lirismo. Jamais conserve ausência nas cores ocasionais do lirismo sobre o objeto eternizado, porém fátuo. Lirismo com rigor empírico e teórico. Nunca escoe o tempo rasgando verso na flama azulada do amanhã. O que não se quis e ainda insiste. É sem objeto de cena esse próximo espanto! Nada do que se perde em desatino, entre muito sofrimento, é só buscando. Foge do lirismo trissilábico de natureza e cunho poético. Abra os olhos para conter o calor dessa expressão viva, mas sem lirismos vogais, limonadas morais, pastéis verbais, coquetéis aos diamantes murmurados pelo brilho. Tudo é gigantismo no eufemismo de ferro dos jograis.
Em seguida sobrevém o amargo triturar da noite sem Bebel nem Madalena. Só o galo cantor da madrugada clareia o terreno palaciano da alegria que ri o riso vago das certezas.
Vamos! Desobedeça ao lirismo. Assim se revelará estanque a placa de conforto antes que ameace. Avise a saudade em seu estado bruto, onde se pesará o lirismo, de que partiu o confinado pranto. Nascerá o pasto, a grama da mais pura frase solta e viva. Consumada. Num segundo de alfazema o fogo-fátuo do poema se perderá entre mil. Todo o conteúdo sensível do plano diário no ponto em que desfaz do jornal a múltipla presença. Presença de velho na sala solitária das mensagens exclusivas. Recorda antes que a tez da amargura carregará o aturdido lírico até os assombrados, para a ceia de ornamentos, num carnaval de argila. Um carnaval tão exótico e com formas tão corais que em casa dentro da sala se reservará o brilho do verniz encanto até o abismo do próximo desalento. Para ninguém ousar dizer que o lirismo mágico, lisérgico, venceu o lirismo prático e boçal da terra supostamente plana. Gaste o lirismo. O lirismo sem bolsos. Sem mensagens. Depois, tudo é gigantismo! E peças de rigor para perder barriga.