FABULÁRIO 13
A PULGA E O CARRAPATO
O cachorro lafaiete saiu de uma fazenda na baixada do brejeiro e disposto a encontrar uma erva qualquer nos pastos de meloso sumiu numa trilha de vegetação mista sem sequer saber ao certo onde iria parar.
- Como é que pode uma dor de barrigas dessas me pegar logo agora que chegaram dois gambás que tenho que expulsar antes da galinha matilde botar seus ovos? deve ter sido aquele osso que estava jogado debaixo do pé de embaúba.
Caminhava mostrando uma careta de enjôo e no seu pelo uma pulga já estranhava o itinerário, não gostando.
- para onde será que vai esse cachorro estúpido? tive uma noite das mais agitadas e preciso de descanso, a briga por território com os pernilongos foi pesada e estou de fato bastante cansada.
Olha ao redor e vê que o ambiênte em nada se parecia como terreiro poeirento onde poderia entre um pulo e outro dar uma boa pinicada no cachorro com variação para uma pato, umas galinhas e cabritos.
- Se esse bicho demorar demais, o jeito e voltar para o terreiro na garupa de algum pardal, porque o Sol já está me castigando cedo, para não falar nos solavancos, pois era para esse cão estar numa sombra dormindo por ter latido a noite toda ao invéz de ficar por ai passeando sem rumo.
Como se atendesse ao clamor da pulga, o Lafaiete para diante de um pé de estranha gramínea e apôs mastigar algumas folhas peludas pareceu se dar por satisfeito melhorando até a careta de enjôo.
- Que alívio, acho que vou descansar um pouco debaixo daquele pé de lobeira ali para ver se recupero um pouco as energias.
Descansava o cão com a pulga no lombo que agradou da idéia não se antes dar uma pinicada que lhe fez dar um tapa no próprio dorso ralhando:
- Mas que coisa, essa pulga não dá sossego nem com sol quente.
- Puxa vida quase que esse tapa me pega, mas o negôcio é que não posso puxar minha pestana de barriga vazia. – safa-se a pulga.
A sombra era boa e em pouco tempo o sono ocupou os dois que não perceberam a chegada de estranhos.
- Vejam bem pessoal, havia bem uns meses que não viamos viva alma por esses lados e agora esse cão aparece manso, dormindo debaixo dessa lobeira. ao ataque!
- Um minuto ai espertinhos, - fala a pulga que tinha o sono leve e acordou na hora. – o território por aqui está ocupado se é que não perceberam.
- Ora,ora, uma pulga com jeito de mandona o que acham colegas?
- Acho que ela terá que procurar outro lugar para sua vida de parasita.
- Se não cairem fora haverá derrramamento de sangure por aqui.
- Ouviram isso? ela tem senso de humor.
- Sabe de uma coisa sua pulga, e exatamente o que procuramos, sangue e por isso antes que o haja derramamento do seu sangue, trate você de cair o fora e depressa, é a chance que te damos mas por pouco tempo.
- Molengas como são, como acham que me pegarão?
- Vamos partir pra cima dessa pulga fanfarrona e acabar com ela?
- E pra já. – decidem.
- Vejam se dão um salto igual a esse. E a pulga dá um salto fenomenal e empoleira bem em cima de um dos carrapatos que não tem tempo de pega-la diante da rapidez dela que ficando numa distancia segura previne:
- Eu não sou forte para vocês, mas terão que ir embora porque com minha agilidade lhes cansarei sem dar trégua.
- Essa pulga é mesmo rápida pessoal.
- E daí? uma hora nos a pegaremos, somos mais de um.
A agitação toda provoca, como era de se esperar grande coceira no cachorro que acorda e resolve voltar a arranhar todo o corpo sem sair do lugar contudo irritando a pulga que ralha como os carrapatos.
Porque não vão se ocupar do lombo de um cavalo ou uma vaca que são seus fornecedores? – não sabiam que pulgas são para cães?
- Conversa ficaremos por aqui e cuidado com a gente, na primeira distração sua mamata acaba,vamos pessoal achar um lugar para montar nosso refúgio e olho vivo nessa pulga.
- Porque a preocupação? além de ser apenas uma ela nada pode fazer aos nosso duros couros podemos ate´nos esquecer dela.
- Nada disso, alguma ela vai aprontar se não tomarmos cuidado.
E encontram os carrapatos lugar ideal na barriga aquietando-se de vez ao passo que a pulga de longe não gostava dos indesejáveis hospedes e tramava alguma coisa para desaloja-los ate que teve uma idéia.
- Já sei, a mim basta perturbar esse cachorro o máximo e depois cair fora e ele pensará que são esse carraptos e cuidará deles em meu lugar.
E se põe a pulga a pinicar o cão que cançado das coceiras resolve dar uma olhada na própria carcaça encontrando os tranquilos carrapatos dormindo a sono solto e rápidinho os arranca da moleza com seus dentes afiados.
- Aposto que aquela pulga tem alguma coisa com isso.
- Onde ela está por falar nisso?
- Aqui em cima pessoal e toda vez que vocês vierem ao meu território vou incomodar o cão para que ele faça o meu trabalho.
- Acho melhor a gente cair fora, o lombo de um cavalo e mais tranquilo.
Assim a pulga se livra dos intrusos que somem no pasto sem deixar rastro.