O ELOGIO E O OUTRO LADO DA VERDADE

Alguma mulher já lhe chamou de “liiiindo, bonitãoooo” e você sabendo que não é nenhum Brad Pitt, ou Reynaldo Gianichinni se julgou o tal?

Cuidado. Quem pode lhe chamar a vida toda de “meu fofinho, meu lindinho” é a mãe.

Guarde esse conselho: Por trás de alguns elogios podem se esconderem verdadeiras arapucas. Se bem que a boa educação recomenda que devemos agradecer quando somos elogiados. Mas eu tenho razões de sobra para ficar com um pé atrás e cito alguns exemplos:

Em 1982, incentivado por colegas que gostavam da minha voz e minhas composições, resolvi gravar um disco. Centenas de pessoas da minha cidade “elogiaram” o trabalho e até cheguei a vender mil e poucas cópias. Meses depois descobri que todos, todos, logo ao chegarem em casa, quebraram o disco.

Que era mentira do DJ da emissora de que ele não poderia tocá-lo porque os pais de algumas meninas haviam feito essa solicitação ao diretor da rádio, pois as garotas estavam sendo acometidas de algo inexplicável pela medicina quando algumas das músicas eram rodadas. E o bobo acreditou.

Restou o consolo: pelos menos consegui gravar um disco, se bem para isso tive que desfazer de 20 hectares de terra (de uma área de 136) que papai tinha na divisa com o Uruguai, levando o velho a enfartar ao saber do desastrado sucesso do filho.

Tudo motivado pelos elogios.

O desgosto foi tanto que vendi a viola e resolvi ‘trabalhar’. Não canto mais nem no banheiro. Vai que alguma vizinha me ouça, goste, me elogie e eu acredite?

Comecei a ficar mais atento aos elogios quando minha irmã mais velha deu à luz a seu primeiro filho. Mamãe, no hospital, lhe dava assistência enquanto tricoteava.

Um enfermeiro recém contratado chegou junto ao berço e com muita naturalidade falou: - Nossa que nenê mais feio meu Deus!

Minha irmã, tentando consertar e amenizar a situação, disse: - É meu filho...

- Ah, é seu? Mas a senhora concorda que ele é feinho né? – respondeu o enfermeiro.

Dizem que o dito cujo saiu do quarto com as paletas furadas com as agulhas de tricô.

Hoje, olhando mais de perto para esse meu sobrinho, eu concordo com o enfermeiro que não se rendeu a falsidade. Se tivesse elogiado o bebê tipo: “Mas vejam só que nenê lindo”, ia ficar aquela enganação por muitos anos.

E minha irmã tentou amenizar a dor da família escolhendo um nome, digamos, diferente: Rosebaldo. As cunhadas, as vizinhas e a futura madrinha acharam o máximo. Hoje ele é conhecido por BARDO. Além de feio, o coitado ganhou um apelido...deixa pra lá.

É por essas e outras que quando ouço por aí frases tipo: “esse menino vai dar bom de bola; essa menina vai ser miss Brasil; esses caras cantam bem”, eu me pego a relembrar.

Portanto, elogios devem ser tratados como chicletes: mastigue, mas não engula.