ESTRANGEIRISMO

Carlos Silva e Sandra Regina

Ouça o causo e a canção: Clique aqui!

Falando:

Outro dia, me convidaram para irmos ao MC DONALD’S, comermos CHEESE BURGER!...

O salão estava lotado e fizemos os pedidos através de um tal de... DRIVE THRU. Os colegas, percebendo a minha irritação, disseram:

-- Se tu tiver com pressa, eles têm um sistema de DELIVERY, maravilhoso!!!

Desacostumado com este linguajar, chamei os cabras:

- Vâmo s’imbóra!

Seguimos pela avenida HENRIQUE SCHAUMANN, onde pude observar um OUTDOOR. Estava escrito: CHINA IN BOX, e uma seta indicativa: PARKING. Nós não paramos por lá não.

Seguimos mais adiante, avistamos um restaurante bonito e luxuoso, e na porta de entrada, uma luz NEON piscando escrita: OPEN.

Quando olhei pro chão, pude ver, estampado, um capacho com a bandeira americana, me convidando: WELLCOME.

Ao adentrarmos naquele recinto, eu pude observar, na sua decoração e nas paredes, que estava escrito assim: ICE CAKE, CHEESE EGG, CHEESE BURGER e FAST FOOD.

Eu pensei comigo: “FOOD" na Bahia a gente USA numa outra situação…

Do meu lado esquerdo, uma garota tomava uma cerveja numa lata vermelha e azul, cuja marca era BUDWEISER. O camarada que lhe acompanhava tomava sua LONG NECK...  HEINEKEN.

Do meu lado direito, uma loira bonita,  peituda, falava pro cabra com voz sensual assim:

-- Eu trabalho numa RELAX FOR MAN

E ele pergunta pra ela:

-- Fica próximo do Motel MY FLOWERS? E ela lhe responde:

-- Não BABY, fica junto à NIGHT CLUB WONDERFUL PENETRATION!

A fome aumentava - juntamente com a raiva - e eu não sabia se pedia um HOT DOG, ou um simples cachorro-quente.

Emputecido mais uma vez com aquela situação, chamei os caboclos:

- Vâmo s’imbóra!

Na saída, o manobrista nos recebe e nos entrega as chaves do nosso possante veículo – um fusca 68 fabricado em Volta Redonda na época do presidente JUSCELINO KUBI ... TISCHEK.

Ele olha pra mim e me diz:

-- THANK YOU SIR!... AND HAVE A GOOD NIGHT!

E eu, usando toda minha simplicidade e educação que aprendi no Sertão da Bahia, olhei pra ele e lhe disse:

- Vá PRA PUTA QUE LHE PARIU!!!

Cantando:


Eu gostaria de falar com o Presidente
Pra cuidar melhor da gente
Que vive neste país.
Nossa gramática está tão dividida
Tem gente falando happy...
Pensando que é feliz!

Acabaria com esse tal e estrangeirismo
Que deturpa nossa língua
E muda tudo de uma vez!
E os mendigos, que hoje vivem na calçada,
Ensinariam ao brasileiro...
Que aqui se fala o Português!

Eu sou simples, sou composto,
Oculto, indeterminado,
Particípio, eu sou gerúndio,
Sou fonema, sim senhor!
Adjetivo, predicado, eu sou sujeito,
Ainda trago no meu peito...
Este país, com muito amor.

Eu sou simples, sou composto,
Oculto, indeterminado,
Particípio, eu sou gerúndio,
Sou fonema, sim senhor!
Adjetivo, predicado, eu sou sujeito,
Ainda trago no meu peito...
Este país, com muito amor.

Lá no cento da cidade,
Quase que eu morri de fome,
Tanta coisa, tanto nome,
Eu sem saber pronunciar!
É fast food, delivery, self-service,
Hot-dog, catchup…
Eu só queria almoçar.

Lá no cento da cidade,
Quase que eu morri de fome,
Tanta coisa, tanto nome,
Eu sem saber pronunciar!
É fast food, delivery, self-service,
Hot-dog, catchup…

Eu gostaria de falar com o Presidente
Pra cuidar melhor da gente
Que vive neste país.
Nossa gramática está tão dividida
Tem gente falando happy
Pensando que é feliz!

Acabaria com esse tal e estrangeirismo
Que deturpa nossa língua
E muda tudo de uma vez!
E os mendigos, que hoje vivem na calçada,
Ensinariam ao brasileiro...
Que aqui se fala o Português!

Eu sou simples, sou composto,
Oculto, indeterminado,
Particípio, eu sou gerúndio,
Sou fonema, sim senhor!
Adjetivo, predicado, eu sou sujeito,
Ainda trago no meu peito...
Este país, com muito amor.

Eu sou simples, sou composto,
Oculto, indeterminado,
Particípio, eu sou gerúndio,
Sou fonema, sim senhor!
Adjetivo, predicado, eu sou sujeito,
Ainda trago no meu peito...
Este país, com muito amor.

Lá no cento da cidade,
Quase que eu morri de fome,
Tanta coisa, tanto nome,
Eu sem saber pronunciar!
É fast food, delivery, self service,
Hot dog, catchup…
Eu só queria almoçar.

Lá no cento da cidade,
Quase que eu morri de fome,
Tanta coisa, tanto nome,
Eu sem saber pronunciar!
É fast food, delivery, self service
Hot-dog, catchup…
Meu Deus, onde é que eu vim parar!...


Ó xente, brother!...


Sobre o Poeta:

Carlos Silva - O Poeta Cantador: “Jamais prostituiria a Cultura”

Nascido em São Paulo, Carlos Silva encontrou suas raízes culturais no Sertão da Bahia, onde foi criado desde a meninice. E entre trovadores e cordelistas, na vila de Itamira, no município de Aporá, no interior baiano, encontrou a magia da Poesia Popular.

Começou a cantar em 1978, ainda interpretando outros nomes da música Brasileira e Internacional. E logo depois sentiu necessidade de criar seu próprio estilo. “Foi aí que deixei a paixão pelo Nordeste falar mais alto!”, diz Carlos Silva que se considera um “nordestino inverso”.

Ao longo dos anos, foi construindo sua carreira baseada na lealdade a cultura de seu povo e no trabalho intenso. Seguiu, inspirado por grande nomes como: Luís Gonzaga, Vital Farias, Xangai, Geraldo Azevedo e do Trio Nordestino; e por importantes nomes da literatura como: Zé Limeira, Patativa do Assaré, Gordurinha, Téo Azevedo, Assis Ângelo e Moreira do Acopiara.

Resultando, em 2000, no lançamento de seu primeiro CD com produção independente e o primeiro folheto de cordel. Então, pegou a estrada e viajou o país inteiro, difundindo a cultura nordestina “que é tão bela e tão rica”.

Em 2003, lançou seu segundo CD intitulado “Retratando”, álbum que presta justa homenagem a todos os cordelistas, trovadores, cantadores e, em especial, a Mestre Vitalino e outros ícones da nossa cultura.

Assumindo um tom ora lúdico ora crítico, as canções que compõem o disco reverenciam o artesanato, a linguagem e a poética do povo nordestino.

Outro ponto debatido pelo compositor é a invasão lingüística e cultural promovida por países como os Estados Unidos, o que fica bastante evidente na canção ESTRANGEIRISMO, um sucesso absoluto composto em parceria com Sandra Regina, que você pode ouvir e ler nesta página.

Ainda em 2003, com apoio do Itaú Cultural e juntamente com a Cooperifa ( Cooperativa dos Poetas da Periferia – movimento literário da capital paulista, do qual faz parte ), lançou a coletânea Rastilho de Pólvora, êxito que foi repetido em 2006 com o lançamento de um CD de poesias pela Cooperifa e duas canções compostas por ele em parceria com o músico Zé Riba fazem parte de um CD lançado na França pela gravadora Urban Jungle. “Brazil Testamental (oito pilha! Hum real) que foi uma música de grande sucesso nas rádios francesas”, destaca.

De lá pra cá, Carlos Silva segue viajando por esse Brasil, divulgando seu trabalho e cativando o público por onde anda com sua música que é, acima de tudo, verdadeira e abre espaços antes fechados pela exclusão e marginalização desta cultura.

“Lembro que até meados de 1994 era uma vergonha usar chapéu de couro e caminhar nas ruas de São Paulo” diz ele. Atualmente espaços como UNIP e UNIBAN (2006 e 2007) já prestigiaram de perto a arte deste Nordestino Inverso.

Carlos Silva também mantém o trabalho com os livretos de cordéis, tendo lançado entre 2005 e 2007 5 livretos e ainda têm muito mais guardados na gaveta à espera do lançamento.

Fonte: Site Oficial de Carlos Silva

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Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 04/07/2008
Reeditado em 02/08/2010
Código do texto: T1064117
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