Decidi dar destaque aos versos de participação na ciranda de São João, da competente poetisa portuguesa ZELDA.

Eles são escritos de maneira muito interessante, próprio de algumas regiões portuguesas.

Reparem que algumas palavras escritas normalmente com a letra “b”, são grafadas com “v” e vice-versa.

 

No Nordeste brasileiro, em algumas localidades, os naturais também trocam o “v”, só que pelo “r”.

 

 

 

“Trocando o B pelo V”

 

Eu gostu do San Juão

Lá das bandas du Minhu

Ind’onte tucava harmónio

E iô dançaba so c'u binho.

 

Na minha maun alhu porro

Tamancas altas nos pés

Nos vailes inté de zorro

Tinha homes aos pontapés.

 

Todos queriam mi agradá

P’lo cheiro daquela flô

Mi diziaum qués me amá

E eu só queria o meu amô.

 

Bai carta feliz buando

No vicu de um passarinho

Cando bires o meu amor

Dále um abraço e um veijinho.

 

Eram cartinhas de amor

Que ao mê anjo le escrebia

No bicu a mandava em flor

E c’us olhos ele jumia.

 

A carta qu’eu le escrebi

Saiu da palma da maum

A tinta foi dos mês olhos

E a pena du curaçaum.

 

 Ele mi mandou dizê

Que o seu amô é pra mim

Di saudade vai morrê

Si eu naum le der o sim.

 

E ao ler os versos tan lindos

Iô num pude me ajeitá

Os mês passos foram findos

E num cunsegui vailár.

 

 Zelda

 

 

 

Minha genti do Arraiá
Da Zelda iscuita o canto,
Qui veio di Purtugá
Pra nos inchê di incanto.

Lá na sua região
Se troca o "B" pelo "V",
Iguá nu nossu sertão,
Ocê logo vai intendê:

Onde vassôra é Rassora"
"Carralo réi", meu irmão,
Insina a prufessora
prus curumins nu sertão.

Purtanto letra trocada
num é só im Purtugá,
Essa é a lingua falada
Inté pur nóis do Arraiá.

Zelda amei as suas trovas
Venha aqui quano quiser,
Tua história tamém é nova,
Ocê é um Show, mulher....

 

 

(Hull de La Fuente)


CLARALUNA...muito obrigada.

Obrigada também a todos que comentaram.

Do fundo do coração. Eu pubiquei também no "Luso-poemas", mas não foi bem recebido, com excepção da Betha Costa e da Tera Sá, duas poetas com provas já dadas e que muito estimo.

Enfim, gostos não se discutem...

 

 

Quero acrescentar, que alguns versos são de quadras populares de autores desconhecidos que se usa bordar nos lenços de namorados, típico da região de Vila Verde, no Minho (Norte de Portugal). O resto acrescentei para fazer do poema uma história...

Enfim, desculpas pelo aproveitamento, e só agora esclarecer...

 

Zelda

 

Fica então registrado o esclarecimento da poetisa sobre a autoria de alguns versos. Eles são de domínio público, como ocorrem com algumas quadras e canções populares, aqui no Brasil.

Achei muito interessante saber que os versos são bordados pelas moças, em lenços, e posteriormente presenteados aos namorados. Cada terra com seus usos.

Hull de La Fuente

Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 28/06/2008
Reeditado em 29/06/2008
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