Oi, pessoar, gente boa...

com pé quebrado e tudo

arresorvi ir num arraiá,

a festança táva prometeno

e ansim fui lá espiá,

toda vestida de renda,

cum sandáia de lacinho,

mái otro pé de bota ortópeca,

móde sará tornozelo quebradinho,

nos cabelo umas florzinha

colorida e até cherosa,

toda lampeira fui eu,

a mana e a Maria Rosa,

o festão foi de arrasá,

fogueira, quitutes, dança,

tudo mundo a festejá

e a támem enche as pança,

mái...sempre tem um mái...

lá estava um tal de Zéca,

qui bebeu além das conta

e ficou meio sapeca,

caiu com tudo na farra

ficou prá lá e prá cá

e até quis mi agarrá,

num gosto di hôme atirado

e dei-lhe com a bota nus pé,

ficou co dedão machucado

 

Ansim foi correno a festa,

uns dançando e eu assistindu...

mái tinha moça ouriçada,

atráis dos hôme bonitu,

eu bem que arreparei

as coisa qui nem devo contá,

tinha uns moço meio atirado,

tamem querendo beijá,

maí a festa ficou meio ousada,

tinha genti querendo si coisá,

eu achando qui num pegava bem

numa festa, dita família,

eles qui vão se agarrá

nalgum local propriado,

mái o probrema num era meu,

táva lá prá diversão,

e só comê uns salgado,

aresolvi sair de fininho,

com meu pé estrumbicado,

tomei só um quentão (só um mêmo)

e aresorvi poetá...

só um mêmo!

e porquê vejo tudo embaçado?

 

23/06/08. -  * Marilda *

 

Reedição 

Será que alguém ainda fala " ansim" ?