Que chegue logo meia noite
Aconteceu do Zeca concluir o número 2 no banheiro público e só aí descobrir que estava a pé de papel higiênico.
Fosse o produto final durinho, ressecado , tipo Polaris ou charuto cubano jogado no chão, tudo bem, mas me pergunte, era?
Quinada!
O troço tava molinho molinho. Resultado da feijoada no dia anterior na casa de compadre Jonas, festejando nos trinques o aniversário do filhote raspa do tacho. E olha que a feijó tava bonita pra dedéu! Tudo nos conforme. Costelinha de porco, feijão de responsa, rabinhos a granel, só de escutador suíno uns quinze, pé um pouco menos, o paio nadando na gordurama quinem o Gustavo Borges nos áureos tempos. Agora analise tudo isso mais a cervejada, mais as espanholas com vinho vagabundo, porém gostoso, mais os mamão papaya de sobremesa. Só podia dar nisso. Nessa massa viscosa, grudenta, duma fedentina desgracenta de forte, nessa mistura amarela, meio avermelhada, colada no vaso sanitário,
E nos pelos beirando o cano de descarga.
Que o Zeca, deixa eu esclarecer direitinho, era um.. . como se diz? assim tipo um Tony Ramos de periferia. Um orangotango com cérebro. Um peludão mermo, para economizar adjetivos e não fazer vocês perderem tempo.
E agora?
Tem alguém aí, perguntou , a cara virada para o lado do banheiro da direita.
Nada.
Insistiu.
Mais nada ainda.
Zelador, zelador, chamou num tom um pouco mais baixo. Quase três da tarde, tinha que ter alguém da Prefeitura tomando conta da baiúca.
Nem uma viva alma. Som menos ainda.
Tornou a chamar. Sem resultado.
Uma saída seria vazar até o banheiro vizinho e usar o dali. Frestou pequeno olhando para um lado, depois outro.
Segurando a calça na altura do joelho, meio agachado meio em pé, vupt! Tudo bem, não fosse a pancada joelhal no batente esquerdo e o PQP escapado.
Recipiente também vazio. Será que os colocadores de papel higiênico em banheiros públicos tinham entrado em greve e a televisão não dera? E agora?
O negócio era arriscar o outro.100 metros rasos com barreira e chovendo. Só faltava estar vazio também.
Como um dia filosofou Tião Urubulino, o maior azarado que conheci nesta vida”dia que doença render algum, capaz de eu sarar de tudo” achou tudo despapelado. Assim como a bandeja de papel de mão.
Deviam estar em greve mermo!
A última opção seria se limpar com a cueca e depois pinchar fora. Bem, seria uma opção caso usasse a dita cuja! Duns anos pra cá criava o trem solto. Culpa da alergia renitente nas virilhas mas, mais por safadeza mesmo.
Que faço agora , matutou, meio no desespero,meio na raiva da situação periclitante que se encontrava: bunda de fora, calça arriada , uns mosquitos tarados voejando dali pra cá, de cá pra lá, ele espantando com a mão.
Como a ocasião faz o ladrão e a necessidade apura o raciocínio, o Zeca sentou no vaso de novo, pensou um tiquinho e, numa mistura de contorcionista aleijado com S retorcido, lavou a bunda. A mão esquerda apertando o botão de descarga, a direita tirando a sujeira dos pelos melecados.
Terminada a limpeza, saiu respingando água pernas abaixo.
Quem disse que não se tem jeito para tudo! Dessa me safei, pensou antes de cruzar com a mãe trazendo o menino à tiracolo.
Mãe! Mãe! O homem mijou na calça! Mãe!
Primeiro bar que achou, entrou. A cerveja gelada daria tempo de secar um pouco e poupar vexames.
Foi só levar o copo à boca e sentiu o leve odor bostil.
Tinha sobrado um pouco de merda debaixo das unhas.
O melhor era rezar pro dia terminar logo. Tremeu só de pensar que tinha mais de 8 horas até meia-noite.
Melhor pagar e ir para casa. Levou a mão ao bolso. Cadê a carteira?
Com certeza tinha caído no banheiro durante a Via Crucis caganal.
Os:- quem achou a carteira do Zeca( nome real José de Souza Xavie) favor entregar na Rua das Avencas 219 Jardim dos Bordados . A grana pode ficar( tinha uma merreca mesmo) mas os documentos dá um trabalho dos diabos tirar outros.