O que você faria minutos antes do fim do mundo?

Uma empresa britânica fez uma pesquisa sobre o que a população faria se descobrisse que um grande asteróide está na rota da terra e que teriam pouco mais de uma hora de vida.

Sem grandes surpresas, 54% dos que responderam o questionário, disseram que passariam seus últimos momentos junto de seus parentes e amigos. Ou telefonando para se despedir e prometendo se encontrar na “outra vida”.

13% disseram que ficariam sentados à espera do inevitável, tomando champanhe.

9% responderam que convidariam suas esposas, noivas, namoradas ou amantes para se esconderem, pela última vez, embaixo do cobertor.

3% confessaram que passariam seus últimos momentos rezando e pedindo ao ‘poderoso’ que lhe fosse reservado um cantinho lá no céu.

2% disseram que comeriam algum alimento rico em gordura.

E outros 2% responderam que era hora de começar a roubar.

Para medir a sensibilidade e a preocupação do povo brasileiro, transmiti essa informação ao meu tio Florisvaldo que está beirando nos 80, e perguntei-lhe o que ele faria nesta sua última hora de vida.

Monstrando-se um pouco preocupado, tio Florisvaldo coçou a cabeça com meia dúzia de fios de cabelo, tirou o pente do bolso e colocou em ordem seu vasto bigode, sentou-se na escada da sua casa e começou a avaliar a situação.

- Olha - disse ele, - dizem que é bom morrer de barriga cheia né. Então eu fazia um bom virado, com bastante torresmo acompanhado de uma pinga da boa.

Mas antes eu rezaria para que a comida não me atrapalhasse o estômago. Depois eu ia na casa do Bastião para lhe dar um recado. Ele me deve 45 reais a mais de um ano de um fogão que ele comprou e prometeu pagar uma semana depois, e dizia pra ele: - Agora você via ter que pagar essa conta para o “home do chifrinho”.

Perguntei se ele não aproveitaria para roubar alguma coisa, e a resposta veio com uma cara feia:

- Nunca tirei um tostão de ninguém, por que ia sujar meu nome agora?

- Vai telefonar para se despedir de algum parente tio Florisvaldo?

- Só pro netinho Abel que tem apenas dois anos. O resto da família que vá catar gravetos para aumentar o fogo. Principalmente os meus dois genros. Respondeu.

Conversa vai, conversa vem, ele acabou me confessando um desejo maior: não iria perder a oportunidade de pedir pra sua vizinha, a Mariquinha, cantar pela última vez a saudosa música “Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora”.

Perguntei o porquê, mas ele disfarçou e não me respondeu.

- E não ia convidar a tia Verônica para a última declaração de amor? Perguntei.

- Não, disse ele. - Se tivesse tempo para isso, ia convidar a Mariquinha.

Dei-lhe razão. Eu sabia que as relações com tia Verônica a tempo andavam tumultuadas.

E suas respostas acabaram me convencendo que a idéia do fim do mundo é igual em qualquer lugar. Se bem que alguns detalhes enriquecem a cultura brasileira, já que eles, os britânicos, não conhecem o torresmo, a cachaça, a Mariquinha e nem o Bastião. Então nós, brasileiros, vivemos e morremos mais felizes.

Conclusão:

1 - Morrer de barriga cheia é uma questão de honra para muitos. Mas mesmo antes da morte, uma congestão continua a assustar.

2 - Perdoaria quem lhe devesse, mas que o descanso eterno fosse longe um do outro.

3 - As crianças ainda são células importantes na família. Mas alguns genros...

4 - Não roubaria. Isso prova que não é a ocasião que faz o ladrão.

5 - Que todos querem ir para o céu, mas ninguém tem pressa.

6 - Que todo o ser humano tem uma paixão escondida. Muitas das vezes, pela sua vizinha.

E a última: Que apesar da paixão pela Mariquinha, tio Florisvaldo tem certeza que o seu cantinho lá no céu, está garantido. O do Bastião, não.