Sogra - tem a boa, a ruim e a minha
Como dizia um amigo que já partiu para o andar de cima, sogra é uma pessoa igual a tantas que existem na face da terra; com defeitos, mas com um detalhe: não quer que o genro faça com sua filha aquilo que seu marido fez a vida toda com ela.
Por isso ela vive a orientar que a mesma tome cuidado com as companhias dele, o horário que chega na casa, tomar conta da parte financeira e pôr uma chave na boca quando começar a tomar umas cervejinhas além da conta.
A sogra sabe o efeito de uns goles a mais. O álcool é o saca-rolha da verdade e ela não está disposta a ouvir palavras nada amistosas que possa denegrir a imagem imaculada de mãe protetora.
Assim como tem sogras que são umas verdadeiras mães. Mas as pesquisas dizem que são cada vez mais raras.
Vai aí alguns ditados populares que se ouve sobre a sogra, todos maldosos, claro:
- Sogra deveria ter só dois dentes, um pra doer a noite toda e o outro para morder a língua a cada cinco minutos.
- Quando houver tempestade, fique perto da sogra, pois não há raios que a parta.
- Sogra boa é igual cerveja: sempre bem gelada. Se deixar esquentar dá dor de cabeça.
- Sogra de bom coração? Só se morar no Afeganistão.
E outras tantas.
Brigas de sogra e nora parecem não ter fim mesmo. A nora alega que a sogra é uma velha enjoada, que criou o filho cheio de dengos e ela, a esposa, é que tem que consertar as coisas. A sogra por sua vez, diz que a nora não sabe passar as roupas do filhinho, não faz aquela comidinha que o filhinho tanta gosta, vive lhe pedindo dinheiro e o trata com maldade.
Um ex-amigo que hoje cumpre prisão no Estado do Espírito Santo por assalto a Bancos, gabava-se ter tido três sogras, todas um espelho de educação e bondade, todas, infelizmente, já falecidas. O genro, demonstrando todo o amor que sentia por elas, acendia um maço de velas para cada uma todas as semanas.
A primeira sogra, contava ele, era uma mineira que pegava touro a unha. Tomou veneno. A segunda, uma paraibana que não tirava a faca da cinta nem para rezar, tomou veneno. E a terceira, uma gaúcha de origem italiana.
Essa era tão braba que quando perdia a paciência, gritava tanto que os galos das chaminés das casas vizinhas, enlouqueciam. Foi a única que não tomou veneno. Enforcou-se. Aliás, mais tarde descobriu-se que a história não foi bem assim. Na verdade, ela não aceitou tomar veneno como as duas primeiras, mas concordou, após duas horas de muita briga, que o genro lhe colocasse uma corda no pescoço. Não tenho noticias se as despesas com as velas aumentaram.
Da minha parte, não posso me queixar. Não é lá um doce, mas também não chega a ser um café amargo. Moramos a poucas quadras de distância, mesmo assim, quase não nos vemos desde que, há uns cinco anos, a flagrei dançando no bailão da terceira idade com um garoto que tinha 1/3 de sua idade.
E de maneira um pouco suspeita para uma viúva que já passou dos 60 anos. Por falta de sorte ou erro de cálculo, ela também me viu a dançar no mesmo baile, e não era com a sua filha. Mas isso não a impediu de me mandar todos os finais de semana, uma bandeja com doce de ameixa, de abóbora ou de pera.
Por essas e outras, talvez seja o único genro que leva uma fotografia colorida da sogra na carteira junto com as orações. Vai que um dia ela resolva tomar um licor de pêssego e soltar a língua? Quem tem rabo de palha não passa perto de lavareda.
Por outro lado, convenhamos: o mundo é uma roda. A gente não sabe o que pode nos acontecer amanhã. Minha sogra é uma viúva enxuta e recebe uma boa aposentadoria. Então por que tratá-la mal?