O Exército dos Doze Bravos e um Kibe
Doze dos melhores soldados foram escolhidos a dedo pelo próprio imperador. Não haveria no mundo doze homens mais capazes da missão. Tal era a força deles que foram chamados de O Exército dos Doze Bravos. Diziam as lendas que nem mil homens os derrotariam. Sua missão era simples, mas perigosa: infiltrar-se no castelo inimigo e assassinar o irmão do imperador, reclamante ao trono.
Prontos para partir esperavam seu último integrante, Habbib. O libanês tinha uma espada afiada, mas já estava esgotando a paciência dos outros que queriam ir embora sem ele. Finalmente chegou se desculpando, pois estava arrumando suas provisões para viagem. Cinco kibes fritos em óleo de oliva. Após muita reclamação e apelidos dos outros, como: “Idiota”, “Libanês do inferno” e, o mais carinhoso de todos: “Filho duma égua.” Habbib se sentiu querido por seus companheiros, apelidos sarcásticos sempre eram símbolo de amizade, e ainda o achavam tão forte quanto um cavalo.
Na primeira noite, Habbib acende uma fogueira para esquentar um de seus kibes. Logo os onze se aglomeraram em torno dele. Habbib podia ver nos olhos de cada um o desejo assassino para comer o kibe e foi logo falando: “Eu trouxe só para mim!” Ele sabia pelos olhos semi-cerrados e testas franzidas que eles estavam morrendo de vontade de comer seus kibes, logo os puxou para si. Um deles puxou-o pela gola da camisa e disse sacudindo: “Puta que pariu! Você é uma anta, caralho! Por que diabos você acendeu uma fogueira? Quer morrer é?” E depois da surra de iniciação no grupo, Habbib se perguntou por que eles gostavam de comer kibes frios.
No segundo dia, eles já podiam ver o castelo. Era imponente. Uma fortaleza impugnável qual o muro de Jericó. Como entrar, ninguém sabia. Sentiram, de repente, um cheiro de queimado e olharam para trás. Uma fogueira e um kibe esquentando. Depois de outra surra, que Habbib já estava achando um pouco pesada demais, tiveram uma excelente idéia. Mandariam Habbib entregar um kibe ao irmão do imperador. Alguém protestou falando que era uma missão suicida e logo percebeu que era a intenção: “Ele e os kibes dele podem ir para a puta que pariu!”, logo aquele se calou.
Habbib se sentiu honrado por seus colegas terem o escolhido para uma missão tão importante. Entregar um presente ao sitiado. Isso que era confiança! Isso que era amizade! Ingenuamente ele bateu nos imensos portões do castelo. “Quem é?”, gritou uma sentinela acordando desesperada. “É Habbib!” respondeu o libanês. Um estardalhaço ocupou as muralhas. Gritos que diziam: “Ele chegou! Ele chegou!” ocuparam o castelo. Habbib se comoveu, o estavam esperando, ele nunca acreditaria que o irmão do imperador gostasse tanto de kibe.
Quando finalmente os portões abrem, aparece um homem em trajes formais se desculpando pela demora: “Meu senhor Habbib, por favor, nos perdoe, mas não esperávamos que chegasse tão cedo.” e o conduziu pelo castelo até a sala de conferências do reclamante. Lá estava o irmão do imperador com um sorriso de orelha a orelha. Levantou-se e cumprimentou Habbib com as duas mãos retirando a caixa e depositando-a em uma mesa. Habbib imaginou que ele comeria logo, mas ele o chamou para se sentar. O reclamante estava ansioso e logo foi falando: “A meu bom Habbib, que bom que estás aqui. Só achei que serias maior dado que és conhecido como Habbib o cavalo.” e Habbib se encheu de alegria, até alguém como o irmão do imperador o conhecia e antes que pudesse dizer qualquer coisa, aquele continuou: “Onde está seu exército?” Habbib respondeu de pronto: “Os onze estão acampados na colina aqui perto.” e o reclamante se encheu de alegria: “Onze?! Eu nunca imaginaria que Habbib o cavalo comandaria onze! E estão prontos para atacar?” e responde o libanês: “A qualquer momento, estão só esperando minha volta.” O irmão do imperador fica feliz da vida e oferece a Habbib que este passe a noite no castelo.
No quarto dado a ele, pensa como aquela pessoa gostava de guerra, nunca vira alguém tão feliz para ser atacado. Somente achou estranho que ele não tocou em nenhum dos kibes. Habbib acorda no meio da noite com um alvoroço no castelo. Em pouco o reclamante e um grande homem rompem em seu quarto. Habbib acha estranho o hábito que as pessoas têm de surrarem as outras, pois de novo levara outra. Amarrado é questionado, descobre que o homem grande era líder um exército rebelde e que também se chamava Habbib o cavalo. Logo o reclamante percebe que este ser claramente era um infiltrado do famoso exército dos doze bravos. E manda seu exército à colina prender os outros onze.
“Muito bravo de vocês em mandarem um espião assim, mas também muito tolo de revelarem sua posição muito cedo.” riu o reclamante. O olhar assassino de seus companheiros fez Habbib se desculpar, mas falou que ainda restaram kibes. De repente um deles consegue se desfazer dos grilhões e alcança uma espada. Logo os doze estavam livres e armados enquanto que os soldados do irmão do imperador morriam na algazarra. Habbib foi ataca por uma lança e se desviou com agilidade e cortou a cabeça do atacante, agora entendeu tudo, seus companheiros eram realmente espertos, fazia tudo parte do plano. Conseguiram abrir caminho para fora do castelo, mas perderam a chance de assassinar o reclamante. Habbib foi o primeiro a chegar ao portão e seus companheiros gritam para ele fechar. Habbib obedece, não entende muito bem o porquê de eles quererem ser trancados dentro do castelo com o exército inimigo, mas fecha os portões. Do outro lado do muro escuta seus companheiros gritando para ele: “Idiota, filho duma égua, vai pra puta que pariu!”
Dois anos se passaram desde então. Logo após o massacre do exército dos doze bravos o irmão do imperador encontrou o imperador em campo de batalha, e, antes mesmo da batalha começar, aquele se engasga e morre sufocado. Acharam um pedaço de kibe preso em sua garganta. Enquanto a Habbib, dizem que ele perambula pelo mundo tentando atender ao último desejo de seus companheiros: encontrar aquela bendita mulher.