Coisas de D. Pomps
Dia deste estava eu bolando esquetes para teatro. Textos originais que pudéssemos trabalhar com os alunos mais indisciplinados. Então decidi aproveitar a idéia apresentada pelo grupo JMM (jornal dos melhores do mundo) e coloncando um clipe de fundo Titãs que poderia ser aquele sobre doenças, sobre um quadro de fundo com fotos de salas de laboratório projetadas pelo data-show e uma chamada do desenho dos Super-amigos, com saída rápida da cena e substituição pela foto da sala da chefia do LAC, para ambientação da apresentação que talvez pudesse funcionar como elemento motivador e ponte para provocarmos a mudança de atitude destes referidos alunos. Então escrevi a narrativa de um fato real do dia-a-dia de trabalho no LAC-HGEJF.
Introdução. Bom dia (boa tarde, boa noite)!
Certo dia estava eu a atender alguns pacientes na recepção do laboratório em que trabalho, quando chega uma senhora idosa (aproximadamente uns 100 anos), senta-se e fica a resmungar coisas ininteligíveis. Depois de um tempo assim, ela se levantou e perguntou em alto e bom som:
_ A Pomps deixou um chapéu de chuva para entregar a alguém?
Atendendo às solicitações de outro paciente, eu não compreendi inicialmente do que se tratava o tal chapéu de chuva, achei que estava variando. Dei-lhe então um sorrisinho e continuei atendendo o cidadão à minha frente.
Ela dando mostras de impaciência na voz repetiu a pergunta. Neste momento a funcionária de serviços gerais, entrou na recepção e já conhecendo a senhora idosa de priscas eras, entendeu o que ela estava querendo e falou comigo:
_O Lu o que a dona Lina quer é a sombrinha que está na estante ali atrás!
E vendo que eu não havia compreendido o problema se ofereceu:
_Posso entregar a ela, pode continuar o atendimento ao paciente.
Agradeci e continuei a busca do exame que me foi solicitado.
Ao receber a sombrinha, que neste dia eu aprendi que era conhecida como chapéu de chuva, porém a D. Lina não se deu por satisfeita. Continuando no ataque ela abriu a bolsa tirou uma porção de caixas de remédios dali, jogando sobre o balcão e comentou:
_Nunca fui tão mal atendida assim! Este lugar está cada vez pior. Estão com uma tremenda má vontade de me atender.
Um pouco incomodada, mas respeitando os cento e cinqüenta anos de D. Lina, terminei o que fazia e fui atendê-la. Ela pediu um exame de sangue, que havia feito há uns quinhentos anos e disse que o "cardio" havia pedido. Fiz uma busca completa, mas o exame era tão antigo que só poderia estar nas pastas de arquivos mortos. Neste momento após ouvir uma dúzia de comentários sobre como a D. Pomps era boa atendente e que a qualidade deste serviço estava péssima ultimamente, tive maus pensamentos. Eu queria que não só o arquivo dos exames estivesse morto, mas também aquela "veia", que já estava me dando mal estar no fígado.
Não podendo resolver o problema da D. Jorvelina da Silva, eu a conduzi à chefia, para que ali ela conseguisse uma segunda via do laudo que ela queria. Satisfeita internamente ao passar o problema para o meu chefe que é o pai da paciência, voltei ao meu posto para continuar o atendimento.
Estava eu então despachando outro usuário do plano quando ela, a “veia”, volta lá de dentro cheia de mesuras e salamaleques. Do lado de dentro do balcão de atendimento ela pediu que eu entregasse à D. Pomps uma tampa de caixa de remédio de tarja preta, dizendo que haviam prometido a ela, D. Jorvelina, que conseguiriam no 0-800 o medicamento na farmácia do hospital! Pode!?
Escandalizada, peguei a tampa ensebada, enfiei em um envelope e ao repetir sonoramente o nome completo da D. Jorvelina da Silva, para anotá-lo, inadvertidamente a bruxa deu um guincho, e acho eu que quase me batendo, disse:
_ Eu não sou conhecida por esse nome aí não! Sou conhecida como D. Lina, escreva assim no envelope e entregue para a Pomps!
Depois do susto que eu levei com o guincho da megera, fiz o que ela queria caladinha, para ver se ela ia embora. Prometi que entregaria à D. Pomps em mãos e assim ela se foi com todos os urubus, melhor dizendo Arqueopterix, esvoaçando sobre sua cabeça.
Enquanto isto na sala de justiça...... OPS! Enquanto isto na sala da chefia do LAB, meu chefinho se dobrava de rir, cheguei lá agastada com o ocorrido. Preocupada (na verdade descabelada) por cooperar em conseguir remédio controlado de tarja preta para um paciente sem o receituário especial, ia comentando minhas caraminholas quando o chefe rindo-se mais ainda disse:
_ A D. Lina já é figura carimbada da nossa lista dos dez pacientes mais chatos, inconvenientes e intragáveis. Parabéns, este foi o seu batismo de fogo. Pode ficar despreocupada que a D. Pomps não vai entregar remédio de tarja preta nenhum pra D. Lina.
Falando assim ele passou a contar outra das peripécias da D. Pomps. Dias destes ela estava de "converssê" com outra funcionária e ouviram dela o seguinte comentário:
_Ah, minha filha, eu não me dou com nenhum medicamento cujo nome termina em “ol”: Omeprazol, dextrol, isocordiol, etc.
A funcionária dando mostras de estar achando aquilo interessante e de uma sapiência ímpar mas, o pessoal da bioquímica estava é rolando de rir.
Depois disto, eu saí um pouco mais calma e fui de volta à recepção atender mais alguns jacarés (termo carinhoso que os bioquímicos utilizam para designar pacientes hipocondríacos de médicos cansados, que assim como Pilatos passam a bola à frente. Para o LAC). Agem como se diz no velho ditado: “Se não pode com o inimigo, junte-se a ele”.