O VELÓRIO DO PACA

A morte pegou o Paca no repente,

tomou um tombo e achou na reta uma quina.

Por ser a quina errada ele morreu endividado.

E deixou na pior o Hugo do bar da esquina.

Não ia pagar as cem pratas do Totonho baiano,

o fiado de um sofá a partir dali, foi pras almas.

Tinha um caso com uma vendedora de pastel,

que por lá chorava, querendo parecer calma.

Apareceu ainda uma meretriz da banda podre,

que olhava o morto com uma cara tristonha.

Por certo lembrava de as noites e os licores.

associadas a alguns absurdos sem vergonha.

Três amigos de copo num grupinho etílico,

estavam a gargalhar abafado uma piada.

Um disse que o Paca furou a fila da morte,

Frase que pra viúva não soou engraçada.

Uns meninos comiam pão com mortadela.

Duas mulheres choravam junto ao morto.

Um velho gagá, olhava pra um vira-latas,

que debaixo do banco achou seu conforto.

O coveiro insensível tofia o dedão no nariz,

querendo fazer sua parte e tratar de vazar.

Pois uma turma de carteado no Capão da cerca,

só esperando por ele pra jogatina começar.

Dai a pouco veio mais gente e mais choradeira,

entupiu o lugar, até ficou alguém do lado de fora.

O padre encomendou o corpo, e se despediu,

e o coveiro avisou que era a derradeira hora.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 03/06/2008
Reeditado em 12/09/2020
Código do texto: T1018402
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