O VELÓRIO DO PACA
A morte pegou o Paca no repente,
tomou um tombo e achou na reta uma quina.
Por ser a quina errada ele morreu endividado.
E deixou na pior o Hugo do bar da esquina.
Não ia pagar as cem pratas do Totonho baiano,
o fiado de um sofá a partir dali, foi pras almas.
Tinha um caso com uma vendedora de pastel,
que por lá chorava, querendo parecer calma.
Apareceu ainda uma meretriz da banda podre,
que olhava o morto com uma cara tristonha.
Por certo lembrava de as noites e os licores.
associadas a alguns absurdos sem vergonha.
Três amigos de copo num grupinho etílico,
estavam a gargalhar abafado uma piada.
Um disse que o Paca furou a fila da morte,
Frase que pra viúva não soou engraçada.
Uns meninos comiam pão com mortadela.
Duas mulheres choravam junto ao morto.
Um velho gagá, olhava pra um vira-latas,
que debaixo do banco achou seu conforto.
O coveiro insensível tofia o dedão no nariz,
querendo fazer sua parte e tratar de vazar.
Pois uma turma de carteado no Capão da cerca,
só esperando por ele pra jogatina começar.
Dai a pouco veio mais gente e mais choradeira,
entupiu o lugar, até ficou alguém do lado de fora.
O padre encomendou o corpo, e se despediu,
e o coveiro avisou que era a derradeira hora.